2009: Um Inverno para ficar na memória

Já estamos no início de setembro. Nestes primeiros dias de setembro tivemos alguma chuva. Esta chuva veio amenizar o calor inesperado do final de agosto. E todas estas palavras podem levar a um engano.

Houve um tempo em que eu escrevia muito sobre o calor ou o frio. Era uma estratégia para ter assunto. Atualizar o registro do weblog. Não mais. O registro tem sido atualizado por textos de outrem. Não necessariamente textos com que haja acordo, mas que tenham sido interessantes, ou que tenham levado a alguma reflexão, às vezes a algum estranhamento. Tempo e temperatura eram assunto recorrente.

Hoje volta a ser.

2009 vai ficar, ou deveria ficar, marcado na memória como um inverno que fez um frio como há algum tempo não se via. Segundo a coluna de meteorologia no jornal Correio de Povo de meados de julho passado, desde 1996 o estado do Rio Grande do Sul não encarava temperaturas médias baixas como as que enfrentamos neste inverno. Muitos dias de renguear cusco. De usar toca, cachecol e luvas.

E de quebra veio a peste.

Neste inverno fomos assolados pela gripe “A”, vulga gripe suína, produzida pelo tão afamado vírus H1N1. Todo inverno a agora conhecida como gripe sazonal, a, digamos, “gripe comum” assolava e matava muita gente, tanto que de uns anos para cá o Ministério da Saúde lançou campanhas de vacinação para anciões, pois estes muitas vezes padeciam sob a gripe sazonal. E parece que as pessoas em geral nunca prestaram muita atenção às mortes causadas por esta gripe pois aparentemente ela atingia apenas as pessoas no final do seu ciclo de vida.

Com a gripe A fomos despertados para a fragilidade da vida humana em qualquer momento. A nova peste ceifou bebês, jovens, adultos e mulheres grávidas.

No final do inverno boreal, um país inteiro, o México, parou um pouco para tentar estabilizar a epidemia. E quando o inverno chegou a esta porção austral do mundo, a cidade de São Gabriel também resolveu parar por medo do novo vírus. Diversas escolas resolveram cancelar ou adiar aulas para evitar contágios. No final de julho, início de agosto, muitas mulheres grávidas foram dispensadas de comparecerem aos seus locais de trabalho com o intuito de não expô-las ao risco. Acho que foi por julho também que o restaurante onde rotineiramente almoço disponibilizou aos seus clientes álcool em forma de gel, medida desinfetante e profilática contra o vírus. De certa forma parece que voltamos ao século XIV, ao tempo em que a Peste Negra assolou a Europa.

Mas setembro chegou. A primavera está logo ali. No final de agosto, como já disse, chegou até a haver dias quentes.

Sobrevivemos, a maioria. Acho que enquanto vivermos lembraremos.

“Se lembra de 2009?”

“2009?”

“É. Aquele ano que fez frio pra chuchu, e que surgiu aquela nova gripe!...”


02/09/2009


Texto publicado no Voltas em Torno do Umbigo, em 2 de setembro de 2009.

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