A Solidão de Khadafi e a Hipocrisia do Ocidente


A Solidão de Khadafi e a Hipocrisia do Ocidente

Hoje é 24 de agosto de 2011, e enquanto escrevo os chamados “rebeldes” da Líbia aparentemente já triunfaram em sua “rebelião” para desalojar do poder líbio o coronel Muammar Khadafi.

Certamente Khadafi não é uma pessoa das mais simpáticas, e a imprensa internacional sempre o retratou como um tirano, quando não como um lunático desvairado.

O que mais pesa sobre ele é um atentado contra um jumbo da Pan Am na década de 1980. Mas ele também já foi acusado de financiar grupos terroristas, de buscar tecnologia para produzir armas nucleares, e de produzir armas químicas.


Chegou ao poder por meio de um golpe de estado em 1969, por meio de um golpe de estado, e lá vinha se mantendo até o final de semana passado. No momento em que escrevo parece que os rebeldes estão tentando eliminar últimos focos de resistência a favor de Khadafi na cidade de Trípoli.

É curioso o que tem acontecido desde o início da chamada “Primavera Árabe” (que na verdade começou quando seria inverno no hemisfério norte), com as primeiras manifestações na Tunísia. Desde então Ben Ali e Mubarak perderam o poder na Tunísia e no Egito respectivamente. Surgiram grandes manifestações na Líbia, na Síria, no Iêmen, e no Bahrein. Nos três primeiros as manifestações derivaram para rebeliões armadas.

No momento a situação no Iêmen não está bem definida, mas o presidente se encontra afastado do poder, sob tratamento médico na vizinha Arábia Saudita após escapar com ferimentos sérios de um ataque rebelde.


Na Síria as forças armadas estão tentando esmagar a oposição a ferro e fogo, com ataques usando veículos blindados e tiros contra manifestações aparentemente desarmadas.

No Bahrein, as manifestações da oposição foram abafadas com a ajuda de tropas de estados vizinhos, como a Arábia Saudita. Pelas notícias, as forças de segurança do Bahrein dispararam contra manifestantes desarmados, e impediram médicos de atenderem feridos. Ritos sumários geraram condenações à prisão de lideres da oposição.

Na Líbia, em fevereiro, o governo de Khadafi também estava a ponto de esmagar militarmente a rebelião que iniciar na porção oriental do país, quando o Conselho de Segurança da ONU, por iniciativa de França, Reino Unido e Estados Unidos, aprovou uma resolução de “exclusão aérea”, a propósito de “proteger a população civil”. Sob esta resolução os aviões da OTAN, da França e do Reino Unido principalmente, se atribuíram o papel de ataque às forças de Khadafi.

Além disso, não duvido que tenham fornecido armas e treinamento, através de tropas de forças especiais, aos chamados rebeldes, que, após seis meses, depuseram Khadafi.

Chama a atenção a solidão de Khadafi. Existem algumas entidades as quais a Líbia pertence, tias como a Liga Árabe, ou a Organização da Unidade Africana. Não lembro de algum dirigente destas entidades falando qualquer coisa contra a extrapolação do imperialista e colonialista do mandato da ONU nos bombardeios feitos pelos aviões da OTAN. Me parece que o único a vocalizar solidariedade a Khadafi foi o presidente da Venezuela, Hugo Chávez. Como eu disse no início do texto, Khadafi não é figura das mais simpáticas, mas é notável quão isolado ele ficou.

Também chama a atenção a hipocrisia das potências ocidentais. É muito possível que mais gente já tenha morrido na repressão síria do que em toda a guerra civil líbia. No entanto, a OTAN não está bombardeando as tropas do governo de lá. No Bahrein, a oposição foi abafada com a ajuda da Arábia Saudita e o silencia de Estados Unidos, Reino Unido, e França. Apesar disso tudo, devemos acreditar que os bombardeios na Líbia foram motivados por preocupações humanitárias, e não porque que a Líbia é um país exportador de petróleo?

Acho que não. Provavelmente nem as areias do Saara acreditam nisso.






24/08/2011.

Comentários

  1. Um cara de esquerda jamais perde a oportunidade de defender outro cara de esquerda e atacar o "inimigo comum", pelo primeiro parágrafo já se nota onde o discurso vai acabar, hihihihihi!

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