Diário – Leituras – As Veias Abertas da América Latina


Diário – Leituras – As Veias Abertas da América Latina


Depois de tanto tempo e tanto ouvir falar, finalmente li o livro “As Veias Abertas da América Latina”, de Eduardo Galeano.

Ganhei um exemplar publicado em 2002 pela Editora Paz e Terra, de uma colega de trabalho que resolveu fazer uma sessão de desapego de alguns dos livros que enchiam sua estante sem nova perspectiva de leitura.

Este exemplar é baseado em edição do final da década de 1970. Tem prefácio da escritora chilena Isabel Allende, e posfácio do próprio Eduardo Galeano, à guisa de comentário e um pouco de atualização. O livro propriamente dito, foi publicado pela primeira vez em 1970.

Lembro que quando li “O Manual do Perfeito Idiota Latino Americano” alguns anos atrás, os autores do panfleto liberal acusaram este livro (“As Veias Abertas”) de ser um dos responsáveis pela suposta autocomiseração dos povos da América Latina, e pelo pensamento esquerdista que acabaria moldando muitos intelectuais deste canto do mundo, e sendo um entrave à livre-iniciativa e à liberdade de expressão tão queridas a esses liberais.

“As Veias Abertas da América Latina” é um rápido compêndio de História da América Latina. Acho que a História da América Latina é profundamente desconhecida por nós brasileiros. O nosso currículo de História nos leva a aprender um pouco sobre a História do Japão, a partir do século XIX, por causa do contato das potências europeias com esse país, mas não nos diz nada sobre a colonização, o processo de independência e o desenvolvimento dos países com os quais compartilhamos o continente.

E Eduardo Galeano nos conta uma história de como nossos países foram colonizados sempre visando a exportação de seus recursos naturais, e como isso sempre beneficiou as metrópoles coloniais primeiro e os países desenvolvidos, Inglaterra e Estados Unidos, depois, além de uma minúscula minoria da região.

Passa em revista os ciclos de extrativismo mineral, comentando a exportação do ouro a partir das Minas Gerais no Brasil, e a prata de Potosí, Bolívia. Curiosamente estas riquezas minerais não serviram nem mesmo às metrópoles coloniais. O ouro brasileiro acabou indo em grande parte para a Inglaterra, e a prata boliviana acabou com banqueiros alemães e holandeses que financiaram as atividades bélicas dos reis castelhanos na Europa.

Fala do ciclo do açúcar espalhou escravidão por onde aconteceu, começando pelo nordeste brasileiro, onde acabou por atrair a cobiça dos holandeses, que ocuparam a região no século XVII. Nós, brasileiros, conhecemos bem o que o açúcar gerou entre nós. A distância entre os senhores e os escravos, e os seus descendentes, o desprezo pelo trabalho, e consequentemente pela inventividade. Ao comentar sobre o açúcar, o autor faz interessante paralelo entre o desenvolvimento das treze colônias que acabariam por gerar os Estados Unidos, e as colônias britânicas no Caribe. Como não havia nenhuma riqueza natural evidente na Nova Inglaterra, a região pôde se desenvolver de maneira relativamente autônoma, e livre de importunações. Nas ilhas do Caribe que se tornaram colônias britânicas, de clima tropical, propício ao cultivo da cana-de-açúcar, não só houve subdesenvolvimento, como também escravidão.

O autor também comenta como, a partir do processo de independência, no início do século XIX, os países da região tenderam à concentração da posse da terra, fosse na Argentina, no Brasil, ou no México. Concomitante à expansão do latifúndio, a economia da região se encaixou como fornecedora de produtos agropecuários, para os países desenvolvidos, com destaque para Inglaterra e Estados Unidos. Assim,o Brasil exportava café e açúcar, a Argentina carne e couros, da mesma forma que o Uruguai.

O autor perscruta também a produção dos países da América Central e do Caribe e sua sujeição aos Estados Unidos, inclusive com as frequentes intervenções militares desse país na região.

Por fim, comenta o desenvolvimento industrial tardio dos países da região, e novamente dependente de indústrias provenientes dos chamados países desenvolvidos. O surgimento das indústrias para a produção de bens de consumo na região, foi em sua maioria submissa aos chamados países desenvolvidos. Fosse para a produção de automóveis, de geladeiras ou de aparelhos de rádio.

Nos últimos trinta e cinco anos, a região se desenvolveu bastante. A situação não é ainda boa, mas claramente melhorou com relação ao que é descrito no livro.

Contudo ainda sofremos as consequências de um passado que nos deixou atrasados em relação aos países mais desenvolvidos do mundo.




22/10/2011.


GALEANO, Eduardo. As Veias Abertas da América Latina. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2002.
  

Comentários

  1. Oi José Alfredo!
    Li o "Veias Abertas" há muito tempo. Quando terminei a leitura, quase me engajei no MR8...
    Brincadeira à parte, achei o livro bem interessante para se conhecer um pouco mais da história da nossa 'Latrina' América.
    Abração e parabéns pelo blog.
    José Carlos Coelho

    ResponderExcluir
  2. Obrigado pela visita e pelo comentário.
    Mas...Latrina?... :o

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

Poemas de Abbas Kiarostami na Piauí de Junho/2018

Sessão de Autógrafos - A Voz dos Novos Tempos

Feliz aniversário, Avelina!