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Mostrando postagens de janeiro, 2012

Diário - leituras - A Privataria Tucana

Diário - leituras - A Privataria Tucana Li “A Privataria Tucana”, do jornalista Amaury Ribeiro Jr., recentemente publicado. Resolvi lê-lo antes de diversos outros porque é um livro que tende a ficar datado. Ou se lê na época do seu lançamento, ou a tendência é nunca mais lê-lo. Ele vai para a pilha de livros a serem lidos em algum futuro que não sabemos quando chegará. O livro é pouco didático, e um pouco dispersivo. Apesar de falar de pessoas ligadas ao PSDB no processo de privatização de empresas públicas brasileiras durante o governo FHC, o autor fala sobre o tiro que levou de traficantes ao investigar o assunto, isto é, o tráfico de drogas, nas cidades satélites do Distrito Federal, fala sobre o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, e até de Paulo Maluf. O tiro serve para explicar como ele chegou a produzir este livro. Teixeira e Maluf servem para explicitar um modo de agir, mas são citados superficialmente. Apesar do título, este livro fala pouco da privatização em si. O tí

Aprendendo a ler

Aprendendo a ler Eu aprendi a ler com a vizinha. Eu devia ter cinco ou seis anos, e a vizinha era uma moça no final da adolescência, com paciência o suficiente para ensinar o piazinho vizinho a ler e escrever, com o perdão de tantos inhos. Eu me lembro que em algum momento comecei a escrever algo sobre certo tipo de alimento, talvez grão-de-bico, talvez ervilha, mas mais certamente grão-de-bico. Eu escrevi que o tal alimento era "muinto bom para a saúde", ou algo assim. O "muinto" chamou a atenção do pai da minha "professora", que era advogado, e ele ficou fazendo troça de algo ser "muinto" bom. Enquanto não me explicaram que se devia escrever "muito", e não "muinto", não entendi a galhofa do vizinho, pois para aquele menino de cinco ou seis anos, "muinto" era o correto, pois era isso que ele sempre pensava que ouvia. Um outro belo dia, ou mais provavelmente uma outra noite, meus pais descobriram minhas hab

Diário - Leituras - As Gárgulas

Diário - Leituras - As Gárgulas Entre as minhas leituras do final de 2011 esteve o livro As Gárgulas, de Ana Guimaraens. É um livro de contos, alguns mais longos, outros mais curtos, que expõem o talento de sua autora. Eu comecei a ler o livro porque eu conheço Ana. Convivendo nesta mesma cidade, tive vontade de conferir o que ela tinha a expressar. E os 21 contos que compõem o livro são bons, alguns muito bons, extremamente divertidos, como, por exemplo, O Pangaré, onde o tango penetra na mente de um vivente, através de um sonho, e de seu cavalo, o tal pangaré do título, e isso acaba por influenciar numa situação difícil que enfrenta a cidade em que ele vive. Há contos rápidos como Juçara e Palmito, onde de uma forma engraçada ela narra a sapequice de Juçara, que não consegue ficar afastada dos palmitos, metáfora do despertar da puberdade. Há o conto fantástico das gárgulas que inclusive dá título ao livro. Há também A Ponte, outro conto com uma temática fantástica, que

Nas Ruínas da Catedral

Nas Ruínas da Catedral O carro virou à direita e entrou numa avenida larga. Chamo de avenida porque era muito larga mesmo, mas o movimento era quase nenhum. O único automóvel a rodar por esta avenida era o nosso. Mas logo as ruínas se tornaram visíveis à nossa esquerda enquanto passávamos, nos dirigindo ao portão que nos permitiria o acesso a elas (às ruínas). As ruínas estão cercadas, como uma espécie de parque temático. Uma módica taxa libera o acesso a elas. Tão logo entrei na área do sítio, me dirigi rapidamente às ruínas. Tão rapidamente que eu quase corria. Quem estava comigo brincou: “Cuidado! Não vai ter um ataque do coração!” Continuei andando rápido em direção às ruínas. As ruínas eram da catedral de São Miguel Arcanjo. Ao chegar próximo da entrada parei e fiquei alguns instantes a contemplar as ruínas da antiga catedral. Algo me tocou. Uma comoção mexeu comigo e tive vontade de chorar. E o pior é que não sou capaz de explicar as razões dos meus sentimentos.

Bobo

Bobo Sou bobo Bobo no bom sentido Se bom sentido há em ser bobo Apenas sei Que quando te aproximas de mim A tristeza vai embora A alegria aparece E até mesmo a morte Parece que desaparece Ao teu lado me sinto feliz Me sinto contente Nem sei porquê Deve ser isso mesmo sou bobo 09/01/2012.

"Tu é louco!"

"Tu é louco!" Ela me encontrou no elevador do Centro Administrativo quando saíamos para almoçar. Houve um tempo em que trabalhávamos muito próximos, mas depois ele pediu para trocar de secretaria, assim ficamos menos próximos, mas sempre nos demos bem, e fruíamos respeito e simpatia mútuos. Pelo menos até nos encontrarmos hoje no elevador. - Tu é louco de usar este chapéu preto para sair na rua com este sol! - Ela falou assim que me viu. Esqueci de dizer que o dia era de dezembro, início do verão em Porto Alegre. O verão de Porto Alegre costuma ser quente e úmido, razão pela qual, alguns porto-alegrenses gostam de se referir carinhosamente à cidade como "Forno Alegre". - Eu tento me proteger do sol batendo diretamente na cabeça. - Tentei me defender. Desde que o cabelo começou a rarear faz alguns verões, parece que os raios de sol fritavam a pele nos ralos pelos que permaneceram onde antes havia uma cabeleira. - Pois sim. Parece idiota! Eu mesma costum

Sem vergonhas

Sem vergonhas I Um dia você partiu E nesse dia você me partiu Me deixou em desconsolo Por causa de um alegado sonho Um devaneio tolo II E agora você volta E eu aceito, idiota De fato, como na canção de Lindomar Nós somos dois sem-vergonhas Em matéria de amar 21/12/2011.

Rua Estácio de Sá, 66 – Chácara das Pedras, Porto Alegre, RS

Rua Estácio de Sá, 66 – Chácara das Pedras, Porto Alegre, RS Meus pais me disseram, e a certidão de nascimento dá fé, que eu nasci no Hospital Beneficência Portuguesa, na segunda metade da década de 1960. E desde esse tempo até mais ou menos a metade de 1974, eu vivi na Rua Estácio de Sá, número 66, bairro Chácara das Pedras, em Porto Alegre. Foi ali que, como se diz, “me dei por gente”, ou seja, foi ali que me dei conta de minha própria existência. Claro que a criança que saiu dali com sete anos de idade não tinha sólidas reflexões a respeito da vida. Apenas são dali as primeiras impressões de estar no mundo. É ali o lugar das primeiras lembranças. Morávamos numa casa de madeira, cor de laranja, alugada. Eram quatro peças: dois quartos, uma sala e uma cozinha. Não havia banheiro. Havia uma latrina no fundo do pátio que chamávamos de patente. Morávamos ali meu pai, pedreiro, minha mãe, “dona de casa”, minha irmã, que trabalhava como secretária, meu avô materno, que eu imagi