Diário - leituras - A Privataria Tucana


Diário - leituras - A Privataria Tucana

Li “A Privataria Tucana”, do jornalista Amaury Ribeiro Jr., recentemente publicado. Resolvi lê-lo antes de diversos outros porque é um livro que tende a ficar datado. Ou se lê na época do seu lançamento, ou a tendência é nunca mais lê-lo. Ele vai para a pilha de livros a serem lidos em algum futuro que não sabemos quando chegará.

O livro é pouco didático, e um pouco dispersivo. Apesar de falar de pessoas ligadas ao PSDB no processo de privatização de empresas públicas brasileiras durante o governo FHC, o autor fala sobre o tiro que levou de traficantes ao investigar o assunto, isto é, o tráfico de drogas, nas cidades satélites do Distrito Federal, fala sobre o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, e até de Paulo Maluf. O tiro serve para explicar como ele chegou a produzir este livro. Teixeira e Maluf servem para explicitar um modo de agir, mas são citados superficialmente.

Apesar do título, este livro fala pouco da privatização em si.

O título se deve ao fato do autor ligar privatização e pirataria, utilizando a palavra, que se não foi inventada pelo jornalista Elio Gaspari, foi bastante popularizada por Gaspari. Piratas foram aqueles marinheiros que saqueavam outros navios, ou cidades costeiras. Embora existam piratas até hoje pelo mundo, o auge da fama da atividade se deu entre os séculos XVI e o XVIII, e sua base principal de refúgio eram ilhas do Caribe. Tal qual os piratas de outrora, atualmente muita gente usa empresas de fachada localizadas em paraísos fiscais para receber dinheiro ilegal e “lavá-lo”. No livro são citados paraísos fiscais nas Ilhas Cayman e nas Ilhas Virgens, isto é, ilhas do Caribe, antigo refúgio de piratas, e atual refúgio de novos tipos de salteadores.

O autor demonstra o modo de ação. Uma pessoa abre uma empresa de fachada nesses paraísos fiscais, e abre também uma empresa no Brasil. Como o proprietário da empresa no paraíso fiscal fica oculto, lá, o seu dono pode guardar dinheiro adquirido ilicitamente, e depois trazer esse dinheiro de volta ao Brasil, com a empresa com origem nas Ilhas Virgens adquirindo cotas de capital da empresa no Brasil, num aparente investimento legítiimo. Essa forma de atuação é a que o autor acusa o administrador Ricardo Sérgio, ligado ao PSDB, e diretor do Banco do Brasil durante o governo FHC de usar, bem como Verônica Serra e Alexandre Bourgeois, respectivamente filha e genro de José Serra, notório político tucano, e também Gregório Marin Preciado, primo de José Serra. O autor procura demonstrar suas conclusões reproduzindo muitos fác-similes de documentos coletados durante a pesquisa para o livro.

Contudo me chamaram a atenção os relativamente pequenos valores citados pelo autor nessa circulação suspeita de valores, são sempre centenas de milhares ou alguns milhões de dólares ou reais. Se os valores são grandes para indivíduos são bem  pequenos comparados aos bilhões usados nas tais privatizações.

Talvez esses valores crescessem se houvesse uma investigação em cima das informações fornecidas pelo livro, mas acho que isso seja difícil de acontecer. Os supostos crimes relatados, se aconteceram, foram entre 1998 e 2003. Se já não estão prescritos, devem prescrever em breve, e conhecemos o ritmo de trabalho do nosso sistema judiciário.

O livro se sai melhor ao descrever a participação do autor no início da campanha de Dilma Rousseff durante 2010, e explicar como ele se viu acusado de violar o sigilo fiscal de pessoas ligadas a José Serra, que também era candidato a presidente naquela eleição. Ribeiro Jr. alega que não quebrou sigilo fiscal de ninguém, e insinua que o caso pode ter sido uma armação dos próprios tucanos, para evitar que as informações que davam base ao livro viessem à luz durante a campanha eleitoral, reduzindo as chances de eleição de José Serra.

Também expõe o envolvimento de grandes veículos ao lado de José Serra durante a campanha, em especial o jornal Folha de São Paulo, que em reportagem do jornalista Leonardo de Souza afirmou que Amaury Ribeiro Jr. teria pago a um despachante para violar o sigilo fiscal de José Serra, sua filha e alguns correligionários de seu partido.

Achei o livro uma leitura truncada, e no final acho que ele entregou menos que prometeu. Em todo caso serviu para expor coisas que nem todos conhecem.

Também me remeteu para a leitura do livro “O Brasil Privatizado”, de Aloísio Biondi, que Ribeiro Jr. cita, e que parece bem mais didático.


24/01/2012, 26/01/2012.


RIBEIRO JR., Amaury. A Privataria Tucana. São Paulo: Geração Editorial, 2011.

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