Nas Ruínas da Catedral


Nas Ruínas da Catedral


O carro virou à direita e entrou numa avenida larga. Chamo de avenida porque era muito larga mesmo, mas o movimento era quase nenhum. O único automóvel a rodar por esta avenida era o nosso.

Mas logo as ruínas se tornaram visíveis à nossa esquerda enquanto passávamos, nos dirigindo ao portão que nos permitiria o acesso a elas (às ruínas).

As ruínas estão cercadas, como uma espécie de parque temático. Uma módica taxa libera o acesso a elas.

Tão logo entrei na área do sítio, me dirigi rapidamente às ruínas. Tão rapidamente que eu quase corria. Quem estava comigo brincou: “Cuidado! Não vai ter um ataque do coração!”

Continuei andando rápido em direção às ruínas. As ruínas eram da catedral de São Miguel Arcanjo.
Ao chegar próximo da entrada parei e fiquei alguns instantes a contemplar as ruínas da antiga catedral.
Algo me tocou. Uma comoção mexeu comigo e tive vontade de chorar. E o pior é que não sou capaz de explicar as razões dos meus sentimentos.

Só posso especular...

Talvez fosse pelo fato de estar diante de algo que já havia visto dezenas de vezes em fotografias, vídeos e desenhos. Mas acho que não.

Talvez fosse pela questão de estar diante de uma edificação erguida há mais de trezentos anos, por uma espécie de sociedade muito diferente da que vivo hoje. Talvez.

Talvez fosse pelo fato de eu ser um crente, e saber que a antiga catedral diante de mim foi erguida por outros crentes, e que foi erguida como sinal visível da fé deles. Pensar que como crentes, eu, de alguma forma, sou tão igual e, ao mesmo tempo, tão diferentes deles. Talvez.

Essa hipótese me leva a pensar que sou um crente e me comova ver uma catedral em ruínas. Será que meu sentimento é como o dos judeus que voltavam da exílio na Babilônia, e encontraram o templo de Jerusalém em ruínas no século VI a.C.?

Talvez o que me emocionou foi a história triste deste lugar. Apesar das batalhas épicas, e do massacre do resistente Sepé Tiaraju à troca de soberanias europeias sobre este lugar, não foi a guerra que tornou este sítio em ruínas. Foi o simples abandono dos índios que aqui estiveram aldeados, e se foram. Como no poema de Eliot, muito citado pelo Scliar, também este mundo se acabou, não com uma explosão, mas com um suspiro...

Deliro que as ruínas possam ser restaurada. E esta antiga catedral possa acolher um culto a Deus de novo...

Não pode. O atual status está sedimentado e deve permanecer perene. Estas ruínas são agora “Patrimônio da Humanidade”.

Quem estava comigo senta na antiga nava do templo, e assopra um pífaro indígena. Penso que também ela pensa em um templo em ruínas como um lugar de fato arruinado. Um templo deveria ser sempre um lugar de culto a Deus.

Bem que eu queria ficar dias por aqui. Mas não é possível. Este museu a céu aberto fecha todos os dias. É preciso sair e seguir adiante.

Olho para a entrada da antiga catedral e as lágrimas correm pelo meu rosto. Que sentimento é este?





20/12/2011.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Poemas de Abbas Kiarostami na Piauí de Junho/2018

Sessão de Autógrafos - A Voz dos Novos Tempos

Feliz aniversário, Avelina!