Diário - leituras - O Brasil Privatizado


Diário - leituras - O Brasil Privatizado





Resolvi ler o livro “O Brasil Privatizado”, de Aloysio Biondi, por conta da leitura anterior de “A Privataria Tucana”.

O livro é uma grande denúncia sobre a privatização levada a cabo nos anos 1990, durante o governo FHC, cujos principais ativos vendidos foram as empresas estatais de telefonia e eletricidade, embora tenham sido vendidas também empresas estatais de petroquímica e siderúrgicas.


O interessante das denúncias de Biondi é que nem é possível dizer que ele fosse contra as privatizações em si. Curiosamente, ele cita o sistema de privatizações inglês da Sra. Margareth Thatcher, como um exemplo melhor do que o que foi feito no Brasil. Margareth Thatcher foi mãe fundadora do neoliberalismo que vigora até hoje em dia no capitalismo mundial. 


Mas, segundo Biondi, no modelo de privatização inglês, as ações de empresas estatais foram vendidas na Bolsa de Londres, e, em tese, qualquer súdito de Sua Majestade a Rainha Elizabeth, se possuísse algumas economias poderia comprar estas ações. Também segundo Biondi, este modelo foi seguido em privatizações realizadas na França e na Itália.


Não foi o caso do Brasil.


Aqui muitas estatais que eram deficitárias foram saneadas, e entregues aos grupos que se candidatassem a comprá-las.


Ele conta alguns exemplos extremos. Para que o Banco do Estado do Rio de Janeiro fosse privatizado, o governo daquele estado tomou um empréstimo junto ao Governo Federal de 3 bilhões de reais, para fazer um plano de demissões voluntárias dos funcionários, assumir o passivo trabalhista do banco, e o plano de previdência do banco. Depois disso o banco foi vendido por pouco mais de 300 milhões de reais, ou um pouco mais de um décimo da dívida contraída pelo governo estadual para sanear o banco.


No caso da telefonia, as empresas do sistema Telebrás tinham dificuldades para entregar linhas telefônicas, e trabalhavam com déficit. Mas as tarifas estavam achatadas. O que o Governo Federal fez antes das privatizações? Aumentou as tarifas em 400%, e capitalizou as empresas, que expandiram a sua infraestrutura antes das privatizações. E garantiu aos futuros compradores reajustes automáticos de tarifas, com base em um índice de inflação. Com esses investimentos, o aumento das tarifas, e o reajuste automático, ou as empresas poderiam permanecer estatais e começariam a entregar as linhas telefônicas que os consumidores necessitassem.


Mas o Governo FHC pensava que faria melhor vendendo o patrimônio estatal, e assim foi feito. As empresas do grupo Telebrás forma vendidas para multinacionais como a Telefônica da Espanha, ou por consórcios de empresas montados às pressas para a privatização, como no caso da Telemar/OI.


E assim, com as empresas de telefonia capitalizadas, com aumento de tarifas, e com infraestrutura lançada antes das privatizações, as empresas privatizadas começaram a entregar linhas telefônicas, dando a impressão que havia sido por causa da privatização que os consumidores passaram a ter acesso aos telefones.


No caso da privatização parcial do sistema de geração e distribuição de energia elétrica isso não aconteceu, e mesmo com o sistema semiprivatizado, o país viveu um racionamento de energia no segundo mandado do governo FHC.


O livro de Biondi é didático.


E no final possui tabelas demonstrativas das vendas de estatais, e das composições de capital destas empresas, antes e depois da privatização.




BIONDI, Aloysio. O Brasil Privatizado. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, 2003.



05/03/2012.


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Poemas de Abbas Kiarostami na Piauí de Junho/2018

Bárbara Sanco partiu na Semana Santa

Sessão de Autógrafos - A Voz dos Novos Tempos