Leituras atrasadas - 1808, de Laurentino Gomes


Leituras atrasadas - 1808, de Laurentino Gomes


O livro 1808, de Laurentino Gomes, foi publicado em 2007, para estar disponível ao público leitor em 2008, no bicentenário da vinda da família real portuguesa para o Brasil.

Como o autor diz, foi um fato inédito. Os reinos da Península Ibérica constituíram seus impérios coloniais na América desde o final do século XV e início do XVI. E nos 300 anos seguintes nunca um soberano castelhano (espanhol) ou português havia sequer visitado seus domínios na América. Quanto mais estabelecer a sede de seus domínios por aqui.

Mas, por conta das guerras napoleônicas que tomaram conta da Europa no início do século XIX, o então Príncipe Regente Dom João viu-se compelido a trazer a Corte Portuguesa para o Brasil, sob proteção de uma esquadra britânica, para evitar ser deposto por tropas de Napoleão. Embora o autor não se alongue muito nisso, é possível dizer que são as guerras napoleônicas que acabam por disparar o processo de independência das colônias espanholas da América do Sul.

A vinda da família real portuguesa é o que vai preparar o Brasil para sua independência em 1822, conforme argumenta o autor.

Com a vinda da família real, e a sede do Império Colonial Português para o Rio de Janeiro, uma estrutura de governo é montada na antiga colônia. Os portos são abertos às nações amigas, o que a princípio significa apenas Inglaterra, mas logo em seguida também Estados Unidos, e alguns anos depois as demais nações europeias, como isso o comércio internacional do Brasil deixa de ser um monopólio português. Em 1815, o Brasil é elevado à condição de Reino Unido com Portugal e Algarve, o que significa que não é mais apenas uma colônia.

Para que o livro se alongue, o autor faz longas descrições de alguns dos personagens principais da História, como o próprio Príncipe Regente Dom João, mais tarde Rei Dom João VI, e sua esposa Carlota Joaquina. E uma alongada descrição da tomada de decisão da vinda para o Brasil, e da longa viagem pelo Atlântico.

O autor descreve as mudanças que a vinda da Família Real para o Rio Janeiro proporciona à cidade, com incremento da vida cultural, e aumento do cosmopolitismo.

Há um capítulo bastante revelador sobre a constituição de um corpo policial para a cidade. A polícia é constituída para tentar diminuir a inicialmente crescente criminalidade, mas logo se especializa em reprimir os escravos, prendendo eventuais fugitivos, e sempre usando da chibata, isto é, de uma forma de tortura, como método de disciplinamento desses prisioneiros.

E algo interessante é um exercício de "história virtual" sobre o que aconteceria se os domínios portugueses na América se fizessem independentes de maneira semelhante ao que aconteceu na América Espanhola, com o governo da metrópole deposto, e os vice-reis coloniais sem orientação. Ele reproduz a opinião do estudioso norte-americano Roderick Barman, em seu livro Brazil: the Forging of a nation, que afirma que possivelmente teríamos pelo menos três novos países em lugar de um só. Um, digamos, "Brasil", formado pelo que hoje é constituído pelas regiões sul, sudeste e centro-oeste do Brasil atual; a "Confederação do Equador", constituída pelos estados do Nordeste Brasil, com Pernambuco, Alagoas, Rio Grande do Norte, e Ceará; e um, digamos, "Grão-Pará", constituído pelas províncias do norte do Brasil atual, em volta da Amazônia. É ficção, mas não parece inverossímil.

Segundo o autor, então, a vinda da Família Real foi fundamental para tornar viável a independência do Brasil, alguns anos mais tarde, ao construir instituições que tornariam o novo país viável a partir de então.


GOMES, Laurentino. 1808. São Paulo: Planeta, 2007.


02/04/2012.

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