De Ônibus pela Farrapos


De Ônibus pela Farrapos


Depois de ter caminhado as duas primeiras quadras da Voluntários da Pátria, cheguei ao ponto dos ônibus que fica embaixo do Centro Popular de Compras, vulgo camelódromo, e tive que dar uma corridinha para conseguir embarcar no ônibus que já ameaçava partir sem mim. Sempre que estou neste ponto de ônibus embaixo do camelódromo me pergunto porque a prefeitura não possui mostradores indicando o horário dos ônibus, além da plataforma de onde cada linha sai. Bom, talvez para expor os horários dos ônibus, os usuários precisassem também de relógios públicos no ponto, e fiscais para ver se os ônibus estão saindo nos horários certos. Seria uma demonstração de respeito aos cidadãos que a Prefeitura não parece interessada em oferecer. E isso não apenas na gestão atual.

Mas enfim, peguei o ônibus. Devia ser cinco para as oito da noite. O grosso do horário do pique já havia passado.

Ou pelo menos eu achei que deveria ter passado. Mas eu estava enganado.

O ônibus saiu do ponto sob o camelódromo, e entrou na Júlio de Castilhos. A uma quadra do final da Júlio de Castilhos, virou à direita na Coronel Vicente, como deve sempre fazer. E após duas quadras na Coronel Vicente, entrou à esquerda na Voluntários da Pátria, em direção à sinaleira ordenadora para o corredor de ônibus da Avenida Farrapos. Foi aí que alguma coisa pareceu errada.

Como eu disse, já eram oito horas da noite, e o grosso da hora do "rush" já devia ter passado, mas a fila de ônibus na sinaleira ordenadora do início do corredor de ônibus da Farrapos era imensa. E lenta.
De maneira que nesse dia, o percorrer do corredor da Farrapos aconteceu como se fosse em câmera lenta. E num ônibus quase vazio. Motorista, cobrador e três passageiros, contando comigo. O ônibus andava com velocidade que estimo entre 10 e 20 quilômetros por hora. Isso quando não estava parado numa sinaleira, ou numa estação do corredor.

Andar pela Farrapos pode ser sempre tomado como um passeio, se o passageiro estiver de bom humor. E de qualquer maneira, e preciso bom humor para voltar para casa em ritmo de câmera lenta. Menos mal que o ônibus estava vazio.

As primeiras quadras, a curva à esquerda na esquina da Barros Cassal. A Garibaldi e a Santo Antônio que tiveram suas vias de fluxo invertidas há uns dois anos, por conta de obras no Túnel da Conceição, e que mesmo com o fim das tais obras não tiveram a sua situação revertida. A Ernesto Alves que dá acesso um xóping na Cristóvão Colombo.

Entre a Garibaldi e a Santo Antônio um posto de combustíveis e serviços recebe clientes. E em frente há outro posto de combustíveis para fazer concorrência.

Logo adiante algumas moças com saias bastante curtas, ou "legs" colantes, sapatos com saltos altíssimos e sola de acrílico, e decotes generosos tentam atrair clientes para uns "night clubs", ou simplesmente boates, por ali.

Boates, "night clubs"... A Farrapos tem alguns. Os mais famosos ficam por ali. Não muito tempo atrás havia propagandas na televisão das boates Gruta Azul, ou Madrigal. Há mais tempo ainda havia propaganda da boate Dragão Verde (será que era esse mesmo o nome?). Naquele tempo a propaganda da Boate Dragão Verde anunciava shows de Altemar Dutra ou de Lindomar Castilhos. Quem ainda se recorda de Altemar Dutra ou Lindomar Castilhos hoje? De qualquer maneira, a boate Dragão Verde não existe mais faz tempo.

Uma parada na sinaleira da esquina da Ramiro Barcelos. Mais postos de combustível.

Bares e lancherias aguardam clientes que não aparecem. Bares e lancherias quase vazios acrescentam um pouco mais de modorra ao ônibus que anda devagar.

Na esquina da Câncio Gomes, uma moça sozinha espera eventuais clientes, encostada na porta cerrada de uma loja.

Na estação Florida do corredor deparamos com o lugar onde um dia funcionou a boate Gruta Azul, e que foi parcialmente destruído por um incêndio. A boate acabou se mudando para uma das tantas transversais da Farrapos, não muito longe dali.

O cortejo dos ônibus segue em marcha lenta.

Na esquina da Paraíba duas outras mulheres conversam, também à espera de eventuais clientes. Cena que se repete na esquina da Câncio Gomes. Na esquina da rua Conde de Porto Alegre, uma outra aguarda os clientes, solitária, sentada numa pedra existente ali. Meretrizes aguardando clientes na rua, uma imagem que mistura certa espera tensa, com um ar de tédio.

O cortejo dos ônibus segue devagar.

Estação São Pedro, e logo o ônibus cruza a avenida São Pedro. Na esquina da Guido Mondim outra moça espera eventuais clientes. Se bem que aqui se trate de uma moça diferente. Alguns diriam de uma menina que nasceu menino, outros de uma mulher com algo a mais, ou a menos dependendo de quem fale ou de quem olhe. Mas a mesma expressão de espera tensa e entediada.

O lento cortejo chega à esquina da Avenida Brasil. O ônibus entra nesta avenida. O motorista imprime velocidade ao veículo, talvez tentando compensar o atraso ocasionado pela lentidão do corredor de ônibus da Farrapos.

Penso com os meus botões que logo chegarei em casa.




11/05/2012.

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