Leituras na Piauí - Setembro de 2013 - O verão chileno


Leituras na Piauí - Setembro de 2013 - O verão chileno



“O Verão Chileno” é uma longa reportagem da jornalista argentina Josefina Licitra (como longas contumam ser as reportagens publicadas na revista Piauí), abordando a revolta estudantil de 2011 no Chile, e seus protagonistas, em especial a jovem Camila Vallejos, uma garota de olhos claros que acabou por ser o rosto daquele movimento, e que catapultou o movimento estudantil chileno às manchetes do mundo todo.
Comenta desde como a grande mídia chilena e mundial focou seu interesse na beleza física de Camila, o que a levou a comentar, a Camila comentar, que ela esperava esse tipo de exploração, tanto a fim de banalizar o movimento estudanil, quanto de esterilizá-lo. Camila esperava esse tipo de exploração, mas ainda assim não estava preparada para o grau da exploração de sua beleza a que foi submetida.
A reportagem informa alguns dos paradoxos chilenos. Já naqueles outono e inverno de 2011, o Chile parecia estar se encaminhando para se tornar um país desenvolvido, segundo a reportagem com uma renda per capita de aproximadamente vinte mil dólares, o que é um pouco mais ou um pouco menos do dobro da renda per capital brasileira, dependendo da fonte dos dados. Mas claro que a renda per capital esconde alguns paradoxos como o da famosa piada, que, se eu tenho um renda per capital de dez mil dólares por ano, e meu vizinho desempregado tem renda zero, nós dois juntos temos uma renda per capita de cinco mil dólares por ano, o que não seria mal se toda a renda ficasse comigo e ele ficasse com nada. Pois bem, a reportagem informa que a maioria dos chilenos que trabalham tem renda média de quinhentos dólares por mês, seis mil por ano, bem abaixo dos tais vinte mil dólares per capita dos índices econômicos do país.
E a educação superior chilena é paga, mesmo nas universidades públicas. O que acarreta dívidas para os estudantes, que terão que pagá-la após a sua formatura, mais ou menos como o FIES brasileiro. Mas ao contrário, do Brasil, onde o financiamento é assumido pela Caixa Federal, com algum subsídio, no Chile, o financiamento estudantil é feito por bancos privados, com juros de mercado.
E me parece que os estudantes gostariam de ter uma oportunidade de estudo gratuito, ou de financiamentos subsidiados. Mas o governo chileno não ofereceu isso, em lugar disso, ofereceu aos bancos garantias governamentais, isto é, aval, para os empréstimos feitos aos estudantes, aliviando o risco dos bancos, sem aliviar os juros dos estudantes.
Bom, agora muitos daqueles estudantes que participaram da revolta de 2011, estão se formando, ou já se formaram. E muitos deles estão entrando para a política institucional chilena. Pelo que pude entender, um sistema distrital, que favorece os impasses no Legislativo do país. E muitos deles contra os políticos da Concertação, a coalizão de democratas-cristãos e socialistas que tem governado o país desde o fim da ditadura de Pinochet, com exceção do atual governo Piñera. Como eles dizem, a Concertação se diz a associação da social-democracia com a democracia cristã, mas vem governando com os métodos e a legislação deixada por Pinochet. Mais uma demonstração dos impasses de um Legislativo que não permite avançar direitos sociais.
Camila Vallejos é candidata a deputada pelo Partido Comunista, que, meio ironicamente, faz parte da coalizão que participa da Concertação. É como se ela fizesse parte de uma oposição às atuais regras para os estudantes universitários, mas através do partido do governo.
Camila Vallejos, a propósito, informa a reportagem deve se tornar mãe nesta primavera, se é que já não se tornou. Uma maneira de tentar se afastar do padrão de beleza que foi explorado à exaustão em 2011.




22/09/2013.

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