Hell, com Bárbara Paz


Hell, com Bárbara Paz





A peça "Hell" é uma espécie de "tour de force" para a atriz Bárbara Paz exercitar seu ofício (a expressão "tour de force" é bem adequada aqui, uma vez que se trata da adaptação de um livro de uma autora francesa).

Em cerca de uma hora e meia, a vemos falar por algo entre dois terços e três quartos do tempo da peça. O tempo restante fica para seu companheiro de palco, André Bankoff.

Falar e se expressar por seu personagem. Esta expressão vem pelo fumar compulsivo, os trejeitos, como se estivesse diante do espelho em seu quarto, as constantes trocas de roupa em cena.
Tudo isso para mostrar na peça "Hell", adaptação feita por Hector Babenco e Marco Antonio Braz, do livro homônimo escrito pela francesa Lolita Pille, a vida fútil e vazia, talvez algo desesperada, da juventude parisiense muito rica, na virada do século XX para o XXI. Babenco também é o diretor da peça.

Vida fútil e vazia, algo desesperada. Beber, vodka, champanhe, vinho, ... Cheirar cocaína. Fazer sexo. Tudo para ir tocando o dia a dia. E fazer compras de roupas e acessórios de grife para sentir alguma satisfação.

Preencher o vazio da vida com o que poderíamos chamar de vícios é meio clichê. Mas cada geração que puder vai narrar a sua experiência do vazio, do beber, fumar, cheirar, transar, como alívio. Lolita Pille fez isso para a sua, de jovens muito ricos, na França do final de século.

Bárbara Paz tratou de trazer essa vivência para o palco. Para representar a adaptação de um livro, com apenas dois atores, nos seus longos monólogos, ela tem tanto que dialogar, quanto narrar o que acontecia com a personagem principal e seu mundo: suas amigas, seus namorados, a relação com os pais.

A peça é um drama que causa risinhos nervosos na plateia, principalmente nos momentos em que a personagem lança em rosto da "classe média" (que é, na verdade a maioria das pessoas que vão ao teatro, ou que costumam ler livros, e, obviamente, a maioria das pessoas na plateia) o quão pequena ela parece diante dos muito ricos.

A propósito, uma comparação possível é o deste universo, de "Hell", com as garotas da série televisiva norte-americana "Sex and the City". Sim, as garotas de "Sex and the City" são muito melhor comportadas. Mas também estão à procura de festas, e de roupas e acessórios de grife. E se são melhor comportadas, parecem sentir menos o "desesperador vazio da vida". 

O que diferencia um universo de outro? Bem, uma resposta pode ser que as meninas de "Sex and the City" são tipicamente de classe média, e, embora com alguma liberdade e flexibilidade, precisam trabalhar para viver. Enquanto as personagens do universo de "Hell" "vivem" para festear e consumir apenas. O trabalho redime, então? Não vou chegar a tanto. Mas certamente alguma atividade que lhe pareça produtiva parece útil ao bem estar do ser humano.

Dito isso, há algum reparo? Sim. O universo de "Hell" é de jovens desajustados e desestruturados, coisa que costuma acontecer a partir da adolescência até o início da juventude, digamos, arbitrariamente, dos 14 aos 25 anos, e Bárbara Paz já passou dessa fase. Mas é um reparo irrelevante. A atuação da atriz é bastante convincente.

É uma peça que vale a pena, se você puder assistir.


Imagem: divulgação da peça.

16/02/2014.


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Poemas de Abbas Kiarostami na Piauí de Junho/2018

Sessão de Autógrafos - A Voz dos Novos Tempos

Feliz aniversário, Avelina!