Diário - Cinema - Getúlio
Diário - Cinema - Getúlio
“Getúlio’’ (Brasil, 2014) é um filme que recria os últimos dias do presidente Getúlio Vargas, em agosto de 1954. Nesse caso, não há nada a esconder, como é conhecido por qualquer pessoa que tenha prestado a mínima atenção às aulas de História do ensino médio, o protagonista morre no final, e roteirista e diretor são, neste sentido, fieis à história.
Por outro lado, Getúlio foi um filme que me surpreendeu positivamente.
Nestes tempos recentes, o cinema brasileiro tem produzido muitas comédias. Assim, é bom tentar assistir uma obra que se declare drama.
Fui surpreendido porque entrei um tanto quanto cético para assistir o filme. Eu tinha sérias dúvidas sobre a capacidade de Tony Ramos interpretar Getúlio Vargas. O normalmente boa praça Tony Ramos, ator de inúmeras novelas. E isso foi surpreendente. De fato parece que baixa algum espírito de Getúlio em Tony Ramos. Pelo menos o Getúlio recriado por roteirista e diretor.
E Alexandre Borges fica bem convincente no papel de Carlos Lacerda. A tal ponto que eu mesmo fiquei com raiva do energúmeno. Isso depõe a favor do ator.
E o diretor impõe um tom dramático o tempo todo do filme. Desde o início. O filme começa com o atentado a Carlos Lacerda na rua Tonelero, que acaba com o assassinato de um major da Aeronáutica, que fazia o papel de guarda-costas do jornalista e político da UDN.
Há uma razoável recriação de época. Não tanto em retratar o Rio de Janeiro da década de 1950, quanto em recriar o acirrado clima político.
O filme recria a nossa república liberal, que viveu de crise em crise, até o seu fim, no golpe civil-militar de 1964. Tempos difíceis aqueles. Esta república começou com um golpe militar que depôs Getúlio em 1946, passou pelo governo de Gaspar Dutra, e após esse houve o acirramento de uma oposição sem votos, a UDN, que tentava chegar ao poder nas asas de tentativas de golpe.
Isso é mostrado no filme. A bancada minoritária da UDN no Congresso, os discursos furibundos do corvo Lacerda, a imprensa contestando o presidente, e a alta oficialidade militar conspirando.
Com tudo isso, o filme tem um clima pesado o tempo todo.
Para completar, o filme apela para o didatismo. Durante algumas cenas, personagens da época são explicitados por legendas. No final, no início dos créditos, o filme mostra fotos das personagens da época, e suas encarnações no filme.
Um belo e surpreendente filme. Mais obras sobre a história do Brasil assim deveriam ser feitas.
03/05/2014.
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