Uma noite, uma faixa de segurança, um taxista imprudente, uma mulher santa


Uma noite, uma faixa de segurança, um taxista imprudente, uma mulher santa



Início da noite, no outono de Porto Alegre (hoje de manhã, ouvi no rádio que as temperaturas do outono de Porto Alegre, são equivalentes às da primavera em Paris - 13ºC).


Depois de desembarcar do ônibus, e comprar comida, caminho com minha esposa em direção à nossa casa, na zona norte.


Num bairro residencial, em frente a uma praça, esperamos junto a uma faixa de segurança para atravessar a rua. Por conta do recente incremento da frota automobilística da cidade, este incremento fruto de anos de subsídio fiscal para a produção e venda de automóveis no Brasil, há ainda um grande movimento na rua, rescaldo da hora do rush. Mas a rua ainda é basicamente residencial.


Quando parece que vai haver uma brecha, aparentemente nenhum carro vinha da esquerda, e dois carros que vinham da direita já estavam passando, iniciamos a travessia. Na faixa de segurança.


Quase não conseguimos. Na fração de segundos que olhamos para os carros da direita um taxi veio da esquerda em alta velocidade e por pouco não nos atropelou. Na faixa de segurança.


Fosse isso tudo, tudo estaria bem. Um tremendo susto. A quase morte (ou o quase politraumatismo), um suspiro, o coração batendo mais forte, respira-se fundo e se vai em frente.


Contudo, caminhados 50 passos, eis que o motorista do taxi resolve vir em sentido contrário, e “recomendar” mais cuidado.


Recomendar mais cuidado. Imbecil. Ele acha mesmo que eu ou ela queríamos nos suicidar? Se atirar na frente de um táxi que não respeita faixa de segurança vindo à toda numa rua residencial?


Quase virei bicho.


Gritei com o dito cujo: “O senhor viu que estávamos na faixa de segurança?”


Ele responde desaforadamente “que faixa de segurança, o que. Faixa de segurança vale onde tem sinaleira”.


Contudo minha esposa alivia. Agradece ao motorista por ele ter desviado. Diz que foi a mão de Deus que a salvou. Devo dizer, santa mulher!
De minha parte eu tinha vontade de chutar o tal do taxi, e meter um soco no nariz do energúmeno.


Cretino, boçal, idiota!


Santa mulher.


Com palavras suaves, e aparentemente genuínas, conseguiu contornar uma situação que poderia se tornar bastante hostil.


Santa mulher!


25/04/2014.

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