Blitz Policial


Blitz Policial


Quando começaram a ser implantadas as primeiras ações afirmativas, a fim de diminuir a desigualdade no acesso ao ensino superior público há alguns anos, estabelecendo cotas de vagas para alunos negros ou indígenas, e de escolas públicas, houve certo rebuliço. Nenhuma novidade. Até hoje há resistência a esse tipo de ação afirmativa.


Se não me engano houve uma reportagem de uma de nossas revistas semanais informando, que, de dois alunos gêmeos que se candidataram no vestibular da Universidade de Brasília, um deles ficou na cota de alunos de origem negra, e o outro no acesso universal, isto é, fora de cotas. Nenhum problema, o acesso por cota é autodeclarado.


E parece que uma pessoa que fazia parte da comissão de ingresso na universidade deu uma resposta irônica: se as pessoas tem dúvidas sobre se alguém é negro ou não, podemos chamar uma patrulha da polícia militar aqui, e ela pode definir quem é negro ou não...


Claro, ela estava sendo irônica. Mas é possível relembrar mais de um caso em que a, digamos, imperícia de alguns policiais militares gerou a morte de inocentes porque alguém pareceu suspeito. E ser negro costuma ser parte das características de ser suspeito.


Me lembrei disso este final de semana.


A Avenida Antônio de Carvalho liga as Avenidas Protásio Alves e Ipiranga e Bento Gonçalves. É uma das importantes ligações entre as zonas norte e leste da cidade.


Nestes últimos dias tem sido um local de ataque aos ônibus que por ali circulam. Quando os ônibus passam por ali, é o momento em que assaltantes costumam agir. De tal maneira, que os rodoviários que conduzem linhas de ônibus por ali, fizeram paralisações por conta desses assaltos e da violência.


Em consequência, a brigada militar, a polícia militar do Rio Grande do Sul tomou a iniciativa de reforçar o policiamento preventivo na região.


Aparentemente funcionou. Os jornais locais informaram que as ocorrências de assaltos aos coletivos foram reduzidas a zero, e os rodoviários ficaram mais calmos.


Neste final de semana passado, utilizei uma das linhas que passam pela Avenida Antônio de Carvalho.


Mais ou menos na metade da avenida, em um ponto de ônibus, o veículo ficou parado mais tempo do que é comum. Como eu estava sentado em um banco que fica de costa para o motorista e o cobrador do ônibus, não percebi o que estava acontecendo até que um policial apareceu no fundo do ônibus, enquanto outro policial o acompanhava pela calçada. O policial veio olhando os passageiros. No fundo do ônibus, onde pude ver, o único passageiro suspeito foi um jovem negro, vestindo moletom com capuz, e boné. O policial apontou para ele e mostrou-lhe a porta do ônibus. Ele prontamente levantou, e desceu do ônibus. Não reclamou, nem contestou. Parou ao lado do coletivo, encostou as mãos no veículo, e abriu as pernas, posição padrão para uma revista, e a revista de fato foi realizada pelo policial que estava na calçada. Em segundos o rapaz foi revistado e autorizado a regressar ao ônibus. O policial que estava no ônibus desembarcou, e a viagem prosseguiu.


O rapaz desceu umas duas paradas depois. Seguiu seu caminho.


Eu segui minha viagem...



11/08/2014.




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