Diário - leituras - Os Deixados para Trás


Diário - leituras - Os Deixados para Trás


Por conta da série "Leftovers" ("Os Deixados para Trás" pode ser uma tradução) na TV por assinatura, resolvi ler o livro que inspirou a série.


O livro conta a história de algumas pessoas de Mapleton, uma cidadezinha de subúrbio do estado de Nova York, logo após um evento que é descrito como o "arrebatamento", embora o autor não seja muito claro a esse respeito. Mas em 14 de outubro de algum ano do século XXI, 2% da população mundial desapareceu, e ninguém mais pôde encontrá-los.


A história se concentra em Kevin Garvey, prefeito da cidade, e sua família. Laurie, a esposa que abandona a família para aderir a uma estranha seita, os "Remanescentes Culpados", que fazem voto de silêncio, fumam o tempo todo e constrangem pessoas afetadas pelo evento. Jill, a filha adolescente que entra em crise por conta principalmente do abandono da mãe. E Tom, o filho mais velho, que estava fora da cidade, na faculdade e se envolve com um messias charlatão.


Além disso tem algum destaque a personagem de Nora Durst, que perdeu o marido e os dois filhos pequenos no evento.


Talvez a questão seja, como reagir após um evento tão catastrófico como o sumiço de duas em cada cem pessoas do planeta.


E talvez o grande mérito do livro de Perrotta seja embaralhar as crenças mais ou menos consolidadas pela teologia protestante fundamentalista evangélica a respeito do arrebatamento. Segundo esta narrativa, os salvos por Jesus que estiverem vivos e fossem piedosos no momento da volta de Jesus seriam arrebatados. Mas e que tal se nem todos os arrebatados fossem cristãos? Ou mesmo se alguns deles fossem ateus? E se as pessoas que se têm como cristãos piedosos não fossem levados? O autor se arrisca a criar um arrebatamento assim. Se é que foi mesmo um arrebatamento.


E o grande problema é que o foco é por demais centrado em Mapleton. Assim temos uma história centrada nos subúrbios americanos com suas fofocas, suas neuroses e sua repressão. Fica parecendo no final um "sub-John Updike", com um toque fantástico nesse arrebatamento. Ou não. Vai que alguém ache que essa é justamente a força do livro.

Eu sei que achei uma leitura meio fraca, com seus personagens não muito bem definidos, e um final que pode soar inconsistente.


Por fim, uma palavra sobre livro e série televisiva: são obras diferentes. No livro Garvey é o prefeito, e na série é o chefe de polícia. A personagem de Kevin Garvey me parece muito menos protagonista no livro, perdendo para Laurie e Nora Durst. O pai de Kevin não existe no livro. Nem o caçador de cachorros enlouquecidos; quer dizer há, mas só de passagem, citado em uma página.

PERROTTA, Tom. Os Deixados para Trás. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2012.

18/08/2014.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Poemas de Abbas Kiarostami na Piauí de Junho/2018

Bárbara Sanco partiu na Semana Santa

Sessão de Autógrafos - A Voz dos Novos Tempos