"Sinistra esta quebrada aqui..."


"Sinistra esta quebrada aqui..."


Eu havia visitado a minha irmã, e iria voltar para casa. Minha irmã mora na Vila Cefer II, local onde passei o final de minha infância e minha adolescência.

Ela chamou um táxi, que chegou uns dez minutos depois.

Me despedi dela e embarquei no táxi.

O táxi tinha um adesivo do Aécio colado no painel, o que não gostei, porque não pretendo votar nele. Mas eu não estava a fim de discussão. Se o motorista não falasse no assunto - eleições, eu também não falaria.

Havíamos andado uns quinhentos metros quando o motorista comentou, assim como quem não quer nada, "sinistra esta quebrada aqui..."

Eu comentei que nem tanto, e que ali, por onde passávamos, a caminho da Avenida Antônio de Carvalho, as coisas até que eram tranquilas. Muito embora, de fato a quebrada por onde passávamos, em frente à escola Evaristo Gonçalves Neto, estava escura e deserta.

Então, quando, chegamos na Avenida, eu comentei que havia lugares onde os jornais registravam maior violência em Porto Alegre, como os bairros Mário Quintana, Rubem Berta, ou certas áreas da Restinga.

Por conta disso, o taxista resolveu contar uma de suas corridas, uma vez que levou passageiros, acho que do centro, para a mesma Restinga.

Foram dois passageiros. Ele não comentou sobre as feições dos rapazes, mas disse que eram jovens. Embarcaram e pediram para ir para a Restinga. Ele ficou desconfiado, mas já que os rapazes já estavam no táxi mesmo, seguiu para a Restinga. Logo na entrada da Restinga, os passageiros identificaram algumas pessoas, e pediram para ele parar imediatamente. Os rapazes saíram e disseram que voltariam. Cumprimentaram as pessoas que eles haviam identificado. Pelo papo, o taxista inferiu que os passageiros dele ou eram ex-presidiários, ou eram menores infratores que tinham passado algum tempo detidos. Ficaram alguns minutos conversando. O motorista teve tempo de desligar motor e faróis para aguardar (era noite). De fato, depois de alguns minutos os rapazes voltaram, agradeceram a paciência do motorista, e disseram qual era o destino final, uma candonga que eu não sei reproduzir. No final, lá chegando, o motora avaliou que o destino de seus passageiros era uma boca de fumo. Eles desceram, e um conhecido dos rapazes apareceu e pagou a corrida. Os rapazes agradeceram de novo pelo taxista ter esperado antes, e entregaram o dinheiro correspondente à corrida. 


Oitenta e cinco reais! O motorista disse que se sentiu aliviado. Mas por via das dúvidas, voltou para casa, e encerrou o trabalho daquele dia (ou daquela noite).

Depois contou algo sobre trabalhar à noite, e sobre pegar passageiras, mulheres, bêbadas. E como elas costumam ser mais chatas que os bêbados homens. Eu comentei com ele que normalmente se via mais homens bêbados que mulheres. Ele disse que era verdade, mas que, na experiência dele, elas enchiam mais o saco que eles. E contou de uma passageira uma vez, que entrou no táxi bêbada, e começou a fazer gracinhas com ele. Quando ele começou a fazer piadinhas com a bebedeira dela, ela se ofendeu, e começou a xingá-lo. Eu comentei, é, tudo depende do bêbum. Às vezes eles acham graça junto, às vezes eles se zangam. Nesse caso a mulher ficou tão zangada, que ele calou-se e não falou mais no restante da corrida. Ela até tentou voltar a quebrar o gelo, mas aí quem começou a xingar a passageira foi ele. Ele me contou isso rindo. Eu estava rindo junto.

Logo chegamos à minha casa. Destino final da corrida.

Paguei o homem.

Eu estava satisfeito. Ele falou tanto, eu comentei alguma coisa. Rimos juntos. E não havíamos falado em política.



22, 24/10/2014.

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