Ritual de Café


Ritual de Café


Começou lá por 2004 ou 2005, quando eu fui transferido de uma seção para outra do departamento onde eu trabalhava na firma. Era o ritual do café, depois do almoço.


Começou com o Wagner e o Rocha. E comigo, óbvio. Isto é, eu não sei se comentaram comigo sobre a existência do rito antes de mim, mas para mim começou assim…


Normalmente era depois do almoço para eles, e antes do almoço para mim. Se não ficou bem claro, eu costumava almoçar mais tarde que eles.


Como eu disse, era o ritual do café. Nos reuníamos na copa para tomar um cafezinho e conversar.


Naqueles primeiros tempos o assunto favorito eram as traquitanas tecnológicas. A disseminação dos computadores, depois o aumento da capacidade de processamento dessas máquinas, depois a contínua migração dos modelos “desktops” para os modelos “notebooks”, então os modelos cada vez mais sofisticados de telefones celulares, e as câmeras digitais.


O tempo passou. Wagner mudou de departamento, e teve menos tempo para o ritual do café.


Como acontece na vida, nos aproximamos e nos afastamos das pessoas.


Chegou o Tavares. E bem mais recentemente chegou Guerreiro.


As coisas mudam. Rocha agora aguarda uma hora pelo ritual, e eu bebo o café depois de almoçar.


Pois num início de tarde desses, estávamos a tomar o café, eu, o Rocha, o Tavares e o Guerreiro. O Guerreiro, que tem “Twitter”, falou no “Twitter” dele. E eu falei no meu, que servia basicamente para divulgar textos do meu blog.


“Ah, legal”, disse o Guerreiro, e lá foi explorar o que havia de tuítes no meu perfil.


De fato, todos os tuítes listados no meu perfil, eram ligados aos textos do blog. A investigação conduziu a minicontos e a crônicas.


E foi interessante como eu me senti desnudo com as poucas leituras de partes dos meus textos lidos por ele em voz alta. Textos estes comentados, basicamente pelo Guerreiro e pelo Tavares. Realmente escrever nos expõe, mesmo que pensemos que estamos escondendo muita coisa quando omitimos ou inventamos detalhes.


Mas foi legal ver o Guerreiro ler dois parágrafos de um texto que continha dez parágrafos, e, a partir disso, ele e o Tavares fazerem altas ponderações e tirarem importantes conclusões sobre aquele texto, que, talvez, pudesse mesmo ser resumido em dois parágrafos, o primeiro e o último.


Um outro texto, exigiu mais que a leitura de dois parágrafos. Tiveram que ler, pelo menos uns três!... Mas também houve altas ponderações, Eloquentes comentários, e muitas risadas.


Curiosamente os dois textos analisados (por assim dizer) faziam referência à Vila Cefer. E, aí, sim, eles constataram que o final da minha infância e a minha adolescência foram vividos lá. E eu estava exposto. E os textos tinham tom saudosista.


E eles riram. E eu ri junto. Gargalhei. Acho que eles também.


E eu estava feliz. Me senti um autor famoso em noite de autógrafos. Mas não havia livro ali. E ninguém estava me pedindo autógrafos. Mas eu estava sendo lido.


Ser lido é o máximo para quem escreve.


Naquela tarde o ritual do café foi sensacional!


13/12/2014.




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