Diário - cinema - Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância) - versão dois: comentando detalhes


Diário - cinema - Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância) - versão dois: comentando detalhes


Atenção: pode conter "spoilers", embora o final não seja revelado.


Já se vão alguns dias desde que assisti o filme "Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)" ("Birdman or (The Unexpected Virtue of Ignorance)", Estados Unidos, 2014), com direção de Alejandro Iñarritu.


Neste filme, Michael Keaton vive Riggan Thomson, ator que ficou muito conhecido na década de 1990 por ter encarnado "Birdman", personagem principal de uma trilogia de filmes de super-herói, e que agora está envolvido na produção teatral de uma peça do dramaturgo Raymond Carver. A peça se chama "What We Talk About When We Talk About Love", algo como "Sobre o que estamos falando quando falamos de amor".


É uma espécie de tentativa de reinício para Thomson, e ele vai fundo, é produtor, diretor e ator principal na montagem da peça. E ele está gastando suas economias nisso, de maneira que uma falência pessoal é algo muito possível. Além disso ele tem que lidar com a filha recém saída de tratamento contra drogas, Sam (Emma Stone); com a namorada Laura (Andrea Riseborough), que está no elenco da peça; e com o parceiro da peça, recém contratado, que tem um ego maior que um portenho de piada, Mike Shiner (Edward Norton). Também participam do elenco Naomi Watts, como Leslei, outra atriz da peça que está sendo montada; Zach Galifianakis, como Jake, assistente e advogado de Thomson; e Amy Ryan, como Sylvia, ex-mulher de Thomson e mãe de Sam.


Também podemos pensar que Thomson tem problemas mentais, pois o Birdman, a personagem que ele encarnou há 20 anos, está constantemente provocando Thomson para viver mais uma continuação daquele papel no cinema, o que é muito tentador, pois, possivelmente poderia causar uma redenção financeira para ele, além de saciar o desejo de milhares de fãs da série.


O filme tem uma câmera ambulante que segue os atores na filmagem. As tomadas feitas dentro do teatro são, em geral, claustrofóbicas e escuras. E o filme produz a ilusão de ter sido feito em apenas uma tomada de cena, sem a percepção dos cortes.


Um filme que fale de cinema e teatro é cheio de metalinguagem. E neste caso em especial, tem até seus momentos de fábula, como numa sequência logo no início em que Thomson está levitando no camarim, enquanto aguarda um momento de ensaio.


E claro, o filme aproveita para falar do mundo das artes de atuação, cinema e teatro.


Um dos grandes momentos do filme é quando Sam, a personagem de Emma Stone discute com o pai, depois que ele a flagra logo após ela ter consumido um baseado. Ele reclama da reabilitação dela, e por algum motivo a conversa descamba para a peça. E lá pelas tantas Sam diz que as pessoas virão à peça sem se preocupar muito com o drama representado no palco, e como isso afetaria suas vidas. Os espectadores estão mais preocupados, de fato, com o lugar em que comerão após a peça, diz Sam.


Em outro momento, um dos tantos em que Thomson fala consigo mesmo atrávés do Birdman, a personagem, Birdman, provoca Thomson para filmarem um novo capítulo da série, para que as pessoas corram aos cinemas, para fugirem da rotina medíocre que vivem a cada dia.


Há um momento de ironia, em que Shiner, o personagem de Edward Norton, entra com Thomson num bar. No bar, Shiner diz a Thomson que ele é um desconhecido, que ninguém iria ao teatro por causa dele. Mas o diretor se permite uma dupla ironia. Quem é abordado por uma fã, é justamente Thomson. Mas a ironia é dupla. A fã que aborda Thomson é uma senhora chegando à meia idade. Uma fã de Thomson quando ele era o Birdman, nos anos 1990.


E há a crítica de teatro. Uma senhora amargurada que escreve suas resenhas à mão em um bloco de papel no balcão de um bar. De fato, o filme critica a critica teatral. No filme a mulher declara que está pronta para detonar a peça, assim que estrear, pois não pensa de Thomson como um ator, mas como uma celebridade, uma pessoa sem talento que estrelou filmes em que basicamente não precisava atuar. Thomson contrapõe que na crítica da mulher não há análise da peça, apenas opiniões. Opiniões que qualquer um pode dar, mas que, no caso dela eram amplificadas porque publicadas em um jornal.


Foi um dos melhores filmes que vi recentemente.

18/02/2015.

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