Diário - Leituras - Papoulas Vermelhas, de Al Ai


Diário - Leituras - Papoulas Vermelhas, de Al Ai


“Papoulas Vermelhas” é um romance ambientado na região fronteiriça entre o Tibete e a China, no leste daquele país. É narrado pelo filho mais jovem de um caudilho da região, que foi gerado pelo envolvimento de sua mãe com o chefe do clã Maichi, em um momento em que o chefe estava bêbado. Este filho mais jovem nunca é nomeado, como seu pai e seu irmão mais velho a propósito, e é tratado como um perfeito idiota.


As orelhas do livro falam em romance épico, narrativa complexa, mas, sabe como é, a função das orelhas de livro, quando elas existem, normalmente é vender o livro e exaltar o autor. Neste caso, o autor Al Ai, é um tibetano de origem, radicado na China.


As referências bibliográficas não informam o título original, afinal ainda não são muitas as pessoas que sabem ler ideogramas fora da China e do Japão. Há apenas a referência a publicação original em 1998.


É um livro divertido, mas bastante esquemático. Principalmente se pensarmos que Al Ai vive na China, e precisa escrever de forma que sua história seja palatável aos censores do regime chinês.


Esquemático: o livro se passa entre o início do século XX, e vai até o momento em que o exército popular chinês invade o Tibete, no final da década de 1950. Sendo um tibetano que vive sob o regime do partido comunista chinês, o livro denuncia os caudilhos, e denuncia os chineses do partido nacionalista (que afinal foram vencidos pelos comunistas, e expulsos para a ilha de Taiwan em 1949) que introduzem o cultivo de papoulas, isto é, de produção de ópio, naquela região. As papoulas trazem com elas um rastro de corrupção.


Caudilho é uma palavra que merece uma pequena explicação. A imprensa gostava de chamar Brizola de caudilho, mas o líder gaúcho nunca foi isso. Caudilhos, aqueles homens do sul do Brasil, e da bacia do prata, do final do século XIX e início do XX eram chefes, em geral grandes produtores rurais, capazes de mobilizar exércitos particulares para obter poder político.


É mais ou menos o que é o chefe Maichi, pai do protagonista da história. Ele é um grande produtor rural com vastas extensões de terra no leste do Tibete, na fronteira com a China. Logo no início da história, um oficial do governo nacionalista oferece ao chefe Maichi prata e armas, se ele plantar em suas terras sementes de papoulas. As papoulas trazem riqueza, armas e a inveja dos caudilhos vizinhos.


É dentro desse quadro que o personagem principal vai contando sua história, e cabe ao leitor, decidir se ele é de fato um idiota, ou alguem bastante esperto.


Como eu disse, o livro é divertido, apesar de esquemático. Além disso revela um pouco da realidade daquele arrabalde do mundo, na primeira metade do século XX. Uma terra que,  além dos monges e lamas que fazem parte do imaginário de todos, tinha esses caudilhos, senhores da vida e da morte de seus súditos, e onde a escravidão estava amplamente disseminada até a metade do século XX.


04/09/2014.


AL AI. Papoulas Vermelhas. Rio de Janeiro: Objetiva, 2003.

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