Leituras na Piauí – abril / 2015 – O Impostor


Leituras na Piauí – abril / 2015 – O Impostor



A revista Piauí de abril de 2015 tem um texto que achei muito singular. É o texto "O Impostor" (a chamada de capa menciona "O Falso Rockfeller"), escrito pelo jornalista Walter Kirn, onde ele relata como manteve uma relação de cerca de dez anos com um homem que disse se chamar Clark Rockfeller, alegando ser parte da família Rockfeller, aquela de bilionários do petróleo, das finanças, e do Governo dos Estados Unidos.


Na verdade, ao longo da reportagem, Walter Kirn relata como veio a descobrir que o homem era um estelionatário, e possivelmente mesmo um assassino, que teve vários nomes ao longo de sua vida de golpes.


Curioso mesmo é o tom, do que eu chamaria de "autorreportagem", que Kirn relata ao longo do texto.


Do seu primeiro contato com "Clark" através do telefone. Da missão que ele se incumbiu de levar uma cadela aleijada, do interior do estado do Montana, para a cidade de Nova Iorque. Dos tratos que teve de dar ao bicho, que havia sido atropelada e precisava viver acoplada a uma espécie de cadeira de rodas canina. Do cheiro que a urina da cachorra exalava dentro do carro dele em determinado momento. E de como ele se viu compelido a trocar sua caminhonete por um voo no meio do caminho para Nova Iorque.


Ou do dinheiro que ele precisava para quitar um empréstimo que fizera para comprar uma fazenda no interior de Montana.


Ou de como ele consumia ritalina para ter capacidade para escrever as reportagens das quais ele sobrevivia.


Ou sua educação superior na Costa Leste dos Estados Unidos, ou da sua pós-graduação em Oxford, no Reino Unido.


De seu casamento com Maggie, que vem a ser filha da atriz Margot Kidder, que acabei por lembrar que foi a Lois Lane da série de filmes do Super Homem, dos anos 1980. Aquela série com o Christopher Reeve.


Walter Kirn fala de seu relacionamento com Clark, como o de um escritor em busca de uma personagem para seus futuros escritos, mas isso acabou não funcionando. Depois como de um homem ou um artista em busca de um mecenas.


Mas Kirn vai descobrindo que a coisa não funciona. E que na verdade, ele, Kirn, era muito mais a personalidade importante dentro daquele par.


Enfim, uma autêntica autorreportagem, em que o jornalista fala muito mais de si mesmo, que do suposto objeto da reportagem. Ou talvez seja isso mesmo, algo como, “como fui enganado por dez anos por um burguês de araque”.


Mas foi interessante!...




28/04/2015, 04/05/2015.

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