Leituras na Piauí – destaques na edição de março / 2015


Leituras na Piauí – destaques na edição de março / 2015

Desde agosto eu não comentava nada sobre as edições da revista mensal Piauí.
Pois na edição de março/2015, houve umas três ou quatro matérias que me chamaram a atenção.

A Vida por um Tuíte

Uma, "A vida por um tuíte", de Jon Ronson, comenta os infortúnios de Justine Sacco, uma americana que foi alvo de um linchamento moral, que se tornou um furação na vida dela.

Que tal? O que você diria de uma declaração assim no Twitter: "Partindo para a África. Espero não pegar AIDS. Brincadeirinha. Sou branca."? Eu li e achei uma bobagem, sem sentido, nem consequência. Já meu filho disse que pareceu racista.

Não só meu filho. Muita gente achou racista, e começou um linchamento moral internético sobre a mulher. De tal forma, que a empresa em que ela trabalhava foi confrontada, e ela acabou demitida por SMS. Ela fez uma longa viagem, dos Estados Unidos para o Reino Unido, e de lá, para a África do Sul. Na África do Sul, alguém que viu o rebuliço no Twitter, e participou do linchamento moral, se motivou a ir ao aeroporto para registrar a chegada de Justine lá. Ou seja, já é amplamente sabido, mas não custa lembrar, tudo que você escreve no Twitter, eventualmente pode ser usado contra você, eventualmente será usado contra você. Justine, como foi dito, foi demitida, e passou por um momento de isolamento das redes sociais, e por um período de depressão em decorrência do episódio.

A Alemã Tranquila

A segunda matéria, “A Alemã Tranquila”, é um longo perfil de Angela Merkel, e, por extensão, da política na Alemanha. A matéria, escrita pelo norte-americano George Packer, conta da jovem de origem alemã-ocidental, cujo pai, pastor luterano, vai para a Alemanha Oriental, levando a família.
Lá, a filha do pastor se envolve com a juventude socialista, e se torna cientista. No caso, uma especialista em química quântica. E ela trabalha na área até o fim do comunismo. Com a anexação da Alemanha Oriental pela Ocidental, ela tem a oportunidade de trabalhar no Partido Democrata Cristão, do então chanceler (primeiro-ministro) Helmut Kohl. Pelas peculiaridades da política alemã atual, ela consegue chegar ao cargo de primeira-ministra, pela primeira vez, em 2005, sendo reeleita depois disso. Como ela chegou lá? Surgindo num momento em que a política tradicional se desmancha, e em que uma mulher, e uma pessoa discreta – o autor em determinado momento fala em "opacidade emocional" - consegue decifrar o labirinto dessa política sem política. Senão, vejamos, na Alemanha perfilada por Packer, é mesmo difícil distinguir muito direita de esquerda. Por exemplo, foi o Partido Social-Democrata que teve a iniciativa de criar alguma desregulamentação do trabalho, no início do século XXI, com a invenção de trabalhos de tempo parcial, com menos direitos trabalhistas, que, de fato, gerou mais empregos, mas de qualidade mais baixa. E Merkel não tentou nada mais profundo depois. Em alguns momentos, Merkel governou em coalizão com os sociais-democratas, em outros não. Eventualmente o Partido Verde apoia iniciativas da Senhora Merkel. Ou seja, esta política é sem grandes diferenças programáticas, mais ou menos, como se governar fosse deixar as coisas como elas estão. A única cisão de fato, seria o partido de Esquerda, "Die Linke", mas esse partido tem apenas cerca de 10% dos votos. Uma cifra respeitável, mas insuficiente até para ser uma oposição que bloqueie alguma votação no parlamento alemão.

Memórias de um Buraco

A terceira matéria é, talvez, a que mais me chamou a atenção. "Memórias de um buraco", de Daniel Pasquini, comenta a morte do promotor Alberto Nisman, para daí, comentar o atentado contra a AMIA – Associación Mutual Israelita Argentina –, em 1994, e a política argentina, e a polícia argentina, e o judiciário argentino, e o jornalismo argentino, Daniel Pasquini incluído. É um texto assombroso, onde um país que deveria estar léguas a frente do Brasil em termos disso tudo, polícia, judiciário, política, ... Aparece muito semelhante ao Brasil. Começando lá onde ele diz que o método tradicional de investigação da polícia argentina era a tortura. Depois, vem a inépcia, a incapacidade de investigar a partir de uma cena de crime. E, além disso, a corrupção de parte dos policiais. E a corrupção de parte dos juízes, no Judiciário. E o jogo de cena da grande mídia. Disso tudo fica um retrato muito deprimente do Estado Argentino. E o caso nunca solucionado ao AMIA. Tudo, como foi dito, a partir da morte do promotor Alberto Nisman.

Pornofagia

Há ainda uma outra longa reportagem sobre a indústria da pornografia brasileira, seu apogeu, no início dos anos 2000, e decadência, nestes últimos anos, por conta dos saites de vídeo gratuitos na Internet. Paralelo a isso há o perfil biográfico de Clóvis Basílio dos Santos, vulgo Kid Bengala. "Pornofagia", escrita por Alejandro Chacoff, é essa matéria, mas dessa eu prefiro não falar. Melhor olhar na própria revista.
Por enquanto era isso.

27/04/2015.

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