Diário - leituras - O Futuro de Deus


Diário - leituras - O Futuro de Deus



Adquiri o livro pela sua premissa. Em tempos de crescente descrença e ateísmo, tendo existido um livro que dizia em seu título que Deus era um delírio, o que diria o autor sobre o "futuro de Deus"?


Não à toa, essa coisa de Deus como delírio, e o autor desta afirmação, o biólogo Richard Dawkins permeiam boa parte deste livro.


A premissa do autor é boa. Desde a contracapa o leitor é informado que "Deus está no origem da consciência humana", portanto ele existe. Lembra muito as colocações atribuídas a Descartes, com o seu "Penso, logo existo", e, se existo, algo que me criou deve existir também, logo, Deus deve existir.


De alguma maneira faz sentido. Pense o leitor, se você está lendo isto, é porque você tem consciência disso. Se não estivesse vivo, e não tivesse consciência, nada disso seria visto. Existiria? Tendemos a crer que a realidade existe por si só, independente de nós, indivíduos. Mas, de fato, como saber? Sem a nossa existência, a existência por si, não faz sentido.


Parece confuso, e é. E justamente por isso, não costumamos pensar muito nisso.


O livro começa bem, ao questionar as premissas dos ateus que alegam que seus pontos de vista são perfeitamente racionais e científicos. Na verdade, muitos dos argumentos racionais e científicos, são aporias, eleitas como alternativas à explicação que demandasse perspectivas ditas sobrenaturais, como exemplificado na página 64, onde a evolução é eleita como maneira de apreender as origens do universo e do ser humano, porque um Deus produzindo um universo como o nosso deveria ser "excessivamene complexo". Não pode ser. Como diz o livro, "caso encerrado".


Dito isso, Chopra critica muitas coisas, fala da ilha antientropia que nosso planeta seria, diante de um universo em constante entropia, supostamente desde o seu início.


Comenta como a formação do nosso planeta, dentro das premissas físicas da entropia, seria como se um ciclone juntasse os milhões de peças de um jato 747 e o montasse. Você consegue imaginar isso, um tornado montando um 747?


Ou comenta a simples existência do ornitorrinco, esse bichinho com pelos, bico, que põe ovos, e amamenta seus filhotes. Poderia ser interpretado como uma impossibilidade evolutiva. Mas dizem que habita a Oceania.


Além de criticas às premissas dos ateus militantes, Chopra também critica a noção mais comum de Deus no cristianismo como uma entidade pessoal. Na verdade, Chopra aponta para um deus difícil de ser conhecido e apreendido, bastante filosófico.

No entanto é esse deus que ele crê que vai acabar por persistir, pois os argumentos dos ateus militantes seriam inconsistentes, e os das crenças tradicionais, como no cristianismo, seriam inverossímeis.


Os argumentos do autor tocam no panteísmo, isto é, deus estaria em tudo, em toda a criação. E também no dualismo, para cada coisa que normalmente vemos como boa, haveria uma outra, aparente má, mas não necessariamente, e contrária. Se você pensou em ying e yang, é bem possível.


E ficamos assim.


Na segunda metade o livro se enfraquece com a sua multiplicidade de conselhos, se aproximando bastante da autoajuda.


Não sou contra autoajuda, até acho que ela funciona. Eu mesmo me senti bem e feliz com os argumentos e conselhos do Doutor Chopra em determinado ponto da leitura, mas sei que o sentimento proporcionado pela autoajuda é temporário...


Por fim, o autor trata de esclarecer que, apesar de se sentir uma pessoa altamente espiritualizada, não frequenta igreja ou templos. Deepak Chopra é médico dermatologista, de origem indiana.


O livro vai no tom entre ensaio e panfleto. Felizmente mais ensaio que panfleto. Ele cita muita gente, mas infelizmente não contém bibliografia, o que torna difícil tentar refazer os passos do doutor em suas conclusões, ou conferir a veracidade de suas citações.


Achei o livro mais bom que mau.


CHOPRA, Deepak. O Futuro de Deus. São Paulo: Planeta, 2015.


07/06/2015.

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