Diário - leituras - Literatura na edição 106, julho/2015, da Piauí: James Salter, Albert Camus, Kamel Daoud...


Diário - leituras - Literatura na edição 106, julho/2015, da Piauí: James Salter, Albert Camus, Kamel Daoud...



A revista Piauí de julho de 2015, edição 106, tem dois artigos interessantes sobre literatura.


Um é o artigo de Alejandro Chacoff sobre o falecimento de James Salter. Segundo Chacoff, Salter seria um dos melhores escritores dos Estados Unidos no século XX. Contudo, não se tornou um escritor famoso.


Mesmo tendo sido amigo do Prêmio Nobel de Literatura Saul Bellow.


Ainda segundo Chacoff, Salter era citado pelos críticos como dono de uma literatura muito autocentrada, egocêntrica. Contudo, como admite Chacoff numa frase que ilustra o texto, "acusar um escritor de narcisista é como acusar um pugilista de ser violento".


Salter faleceu em 19 de junho de 2015. Semidesconhecido. Eu mesmo só vim a saber de sua existência pelo texto de Chacoff.


O segundo artigo é assinado por Adam Shatz, comentando o livro lançado não faz muito, em 2013, do argelino Kamel Daoud, onde este escreve uma resposta ao clássico "O Estrangeiro" ("L'Etranger"), de Albert Camus. O livro, escrito em francês, se chama "Meursault, Contre-Enquete".


Meursault é um francês nascido na Argélia, então colônia francesa, que ataca e mata um argelino, nunca nomeado, e sem motivo aparente, no livro de Camus.


Kamel Daoud escreve um romance em que um irmão do falecido, faz toda uma contraparte, para o francês.


Mas o mais interessante é a contextualização que Adam Shatz faz para comentar sobre Daoud e seu livro. Ou seja, Shatz fala bastante da História da Argélia. E aí está a riqueza do texto.


A Argélia foi colônia francesa desde a primeira metade do século XIX, e a muito custo se tornou independente, em 1962, depois de uma luta em que os independentistas se utilizaram de técnicas terroristas, e o exército francês se utilizou de tortura para tentar aniquilar a guerrilha.


Desde a independência, o país tem sido governado pela Frente de Libertação Nacional, a FLN, primeiro sob Boumédiène, com inspiração socialista; depois por Bendjedid, que promoveu uma "desboumedienização" do país, mas incentivou uma islamização em seu lugar; até o atual presidente Bouteflika, homem que ficou semi-inválido, após sofrer um AVC em 2013.


Nesse meio tempo, o país passou por uma década de guerra civil entre o governo relativamente laico, e os radicais islamitas, na década de 1990.


Assim, a Argélia, como muitos países, é cindida. Há os liberais e laicos, e os conservadores e islâmicos praticantes, numa maneira simplificada de dizer.


Também faz parte da contextualização de Shatz, tentar situar Daoud na sociedade argelina.


E Daoud, nascido em 1970, fez uma longa transição. Nascido de uma família de classe média baixa, em sua adolescência aderiu firmemente ao islamismo, para depois ir se tornando mais crítico à religião. Tanto que acabou por se divorciar de sua esposa, à medida em que esta foi se tornando mais fervorosa.


E em seu livro, Daoud comenta não apenas o colonialismo francês, mas os problemas com o islamismo atual. Não à toa, ele acabou recebendo uma condenação de um clérigo, como apóstata, isto é, uma “fatwa”.


O livro de Daoud parece que merece ser lido. Ao mesmo tempo é um incentivo à leitura, ao resgate, do clássico de Camus.



14/08/2015.

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