Alternativas
Alternativas
Ali estava eu, ouvindo as palavras da médica. O escritório era até aconchegante. Móveis de cerejeira, livros na estante atrás da cadeira da doutora, foto dos netos. Carpete simples. Janelas que davam para a rua, e não para a parede de outro prédio.
- Glicose: um pouco acima, mas controlada. Vamos manter a dose do remédio via oral. Um comprimido à noite, e outro pela manhã. A hemoglobina glicada indica que a estratégia está funcionando.
Cada item era pontuado por uma pequena pausa.
- O colesterol ruim está dentro dos parâmetros, com a ajuda da dessa dose de estatina.
- Os índices da tireoide estão bons.
- Os índices da vitamina D também estão bons com esta dose suplementar que a senhora está tomando.
- Agora vamos olhar esta ecografia abdominal... É. Tudo bem. Nenhum problema detectado nos rins ou na bexiga. Nenhum problema sério no fígado, a não ser este pouco de gordura, a tal esteatose, que muita gente tem.
- Por fim, vamos ver a mamografia... É, nada demais. Aqueles mesmos nódulos de calcificação do ano passado. A princípio, nada para ficar muito preocupada. Mas é importante mantermos a monitoração. Aqueles apertos e compressões, e o ar frio da sala de exames, e o próprio aparelho frio, tudo aquilo está valendo a pena, pois demonstram que a sua saúde está boa. Mas, mesmo que encontrássemos alguma coisa para nos preocuparmos, um diagnóstico precoce é a melhor forma de tentar a cura.
Depois dos exames laboratoriais e de imagem, o exame clínico propriamente.
E assim foi. Pressão doze por oito. Pulmões normais. Coração com uma mínima arritmia.
E assim eu podia sair da sala de minha médica.
Aliviada pelo quadro estar estável, por eu estar vivendo de forma relativamente tranquila.
- Até mais, doutora. - Me despedi.
- Até mais. - Ela me respondeu.
- Até mais, Alice. - Eu me despedi da recepcionista.
- Tchau! - ela disse, enquanto me olhava.
Não que eu gostasse de visitar a médica regularmente, mas que alternativa havia? É como ficar velho, ninguém gosta muito, mas qual é a alternativa?
16,
18/10/2015.
P.S. Esta crônica foi inspirada pelo "outubro rosa" , que inspirou entre tanta gente, as autoras do livro "Santa Sede 6: crônicas de botequim".
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