A Piauí, Michel Laub, a Legião Urbana e eu


A Piauí, Michel Laub, a Legião Urbana e eu






A revista Piauí de setembro/2015 traz um longo artigo de MIchel Laubsobre a Legião Urbana. Em especial sobre um show ocorrido em Porto Alegre, em 1990. Michel Laub mistura suas memórias daquele show, com uma apreciação estética da obra de Renato Russo, e a própria biografia (de Michel Laub).

Ele teve oportunidade de rever aquele show, que está disponível no YouTube. Além disso leu livros sobre a memória do Rock Brasileiro dos anos 1980, biografias da Legião, e o diário de Renato Russo, do período que o cantor passou numa clínica para desintoxicação.

A primeira coisa que me ocorreu foi, como diz a expressão moderna, “explodir a minha cabeça”. Mas como assim? 1990? Na minha cabeça o show da Legião Urbana foi em 1994. Aquele em que estive. Depois é que fui me dar conta que, obviamente a Legião Urbana fez mais de um show em Porto Alegre, e aquele de 1990 era parte da turnê promovendo o disco “As Quatro Estações”. O que estive foi o de 1994, por conta do disco “O Descobrimento do Brasil”.

São notáveis as diferenças de experiência de vida entre mim e Laub nesse caso. Ele é seis anos mais novo que (a acreditarmos no que a Wikipédia diz sobre ele ), mas tem uma narrativa bem legal para sua própria vida.

Ele informa que em 1990, estava no fim do colégio, e passou a admirar mais Renato Russo, quando Russo admitiu nesse show de 1990 que uma das músicas era em homenagem a um ex-namorado.

Aquele foi o último show da Legião a que Laub assistiu, depois do grupo ter sido parte do fim de sua infância, e de toda sua adolescência. Ou seja, ele não foi ao show de 1994, apesar de ainda viver em Porto Alegre naquela época.

E em 1997 se mudou para São Paulo.

Depois Laub vai comentando a bibliografia sobre o rock brasileiro dos anos 1980 (e 1990). Lá estão “Só por Hoje e para Sempre”, o diário de Renato Russo em uma clínica de reabilitação para dependentes químicos; “As Quatro Estações”, de Mariano Marovatto, um livro sobre a gravação do disco homônimo; “Memórias de um Legionário”, de Dado Villalobos; “O Trovador Solitário”, de Arthur Dapieve - uma biografia de Renato Russo; “O Filho da Revolução”, de Carlos Marcelo, outra biografia de Renato Russo. “Dias de Luta”, de Ricardo Alexandre; e "BRock", também de Dapieve, são outros livros citados. Para seu artigo, Laub informa ainda ter lido (ou, talvez, relido) entrevistas de Renato Russo; visto os filmes sobre sua vida, e vasculhado o YouTube, em sua preparação para o artigo.

Ele comenta as performances da Legião, inclusive um célebre show no Estádio Mané Garrincha, em Brasília, onde houve quebradeira, detenções e necessidade de atendimento médico para parte do público. Naquele show, segundo Laub, Renato Russo deveria ter agido como um bombeiro, mas tinha seus momentos incendiário (atenção: essas palavras são minhas, pensando ter captado a ideia. Laub não usou estas palavras). Era um comportamento errático, que voltou a acontecer em outros shows.

Então Laub comenta sobre o fim de sua infância e o início da adolescência em Porto Alegre. Inclusive sobre como, sendo um adolescente nos anos 1980, usou tênis iate quadriculado.

E passa a analisar o rock brasileiro daquela época: Barão Vermelho, Kid Abelha, Paralamas do Sucesso, Replicantes, Lobão, Lulu Santos, Garotos Podres, Fellini, Titãs, Ira!, Engenheiros do Hawaii, Plebe Rude, Capital Inicial, e, claro, Legião Urbana.
E então passa a fazer análise dos discos da Legião. Todos eles.
Mas quando finaliza, o sentimento é que aquele show no Gigantinho, em 1990, foi o ponto alto da ligação sentimental de Laub com a Legião Urbana, e isso é colocado no artigo. Os amigos com quem ele havia ido àquele show se separaram. Ele não foi mais a shows da Legião Urbana. Depois ele fez faculdade de direito, começou jornalismo sem concluir, e se mudou para o centro do país, onde acabou por se tornar jornalista e escritor.

Por contraponto, em 1990, eu estava no quinto emprego, casado e com um filho bebê. Fazia oito anos que eu trabalhava remuneradamente, tendo enfrentado sete anos de cursos noturnos, inclusive um superior de teologia, que não concluí.

As Quatro Estações” foi o primeiro disco da Legião Urbana que comprei. Lembro de alguma entrevista de Renato Russo, que ele dizia que com esse disco a Legião tinha se tornado algo “mega”. Mas, a partir daí fui mais um dos fãs da banda. Eu tinha então 26 ou 27 anos. Adquiri discos anteriores (acho que já eram “compact discs”, isto é, CD’s). E comecei a comprar os posteriores. Lembro que quando ouvi numa rádio o lançamento da primeira música de trabalho do disco “O Descobrimento do Brasil”, “Perfeição”, pensei com os meus botões, “já não era sem tempo”.

Eu nunca havia ido a um show da Legião, e esse de 1994 foi uma oportunidade. O problema é que quando fui à loja que estava vendendo os ingressos, eles já estavam esgotados.

Em 1994 eu estava com o braço com um gesso, por conta da minha derradeira tentativa de andar de skate. Foi um show em um dia de chuva. E, a exemplo de Laub, eu comprei dois ingressos, um para mim e um para a minha mulher, de um cambista, e um desses ingressos era falso. Apesar de um dos ingressos ser falso foi permitido que entrássemos. O guarda-chuva que levamos ficou numa pilha de guarda-chuvas num dos portões.

Naquela noite, eu acho que já era de domínio público que Renato Russo era portador do vírus HIV. O disco “O Descobrimento do Brasil” recém havia sido lançado. Ele se apresentou com uma longa camisa branca, que parecia uma bata (ou será que era mesmo uma bata?).

Ao contrário do show de 1990 não consegui encontrar nenhuma reprodução do show de 1994 no YouTube. Como lembrou Laub, o show de 1990 no Gigantinho está praticamente todo publicado no YouTube.

E o que me lembro é de um ginásio lotado. O lugar onde tivemos que ficar era atrás (atrás!) do palco. Apesar disso me pareceu extremamente divertido, com aquela atmosfera de culto laico, onde o público cantava junto com Renato. Exceto quando ele cantava as músicas do disco mais recente, que o pessoal ainda não tinha decorado.

Quando Renato Russo faleceu em 11 de outubro de 1996, eu soube no escritório, por meio de uma colega. Pude sentir a mesma amargura que ouvi de um radialista da antiga Rádio Ipanema na noite em que foi divulgada a morte de Kurt Cobain, pouco mais de dois anos antes. Um vasto sentimento de perda.

Procurei por referências a este show de 1994 no Google, mas não encontrei muita coisa. A melhor referência que encontrei, foram as memórias de Micael Machado, no saite Consultoria do Rock. E lá se confirmam algumas coisas ditas aqui, inclusive o Gigantinho totalmente lotado, com gente atrás do palco (eu inclusive). O testemunho de Machado ajuda a estabelecer com acurácia a data do show: 28 de maio de 1994, um sábado de chuva. Outono de Porto Alegre.

Enfim, o artigo de Laub celebra os 30 anos do primeiro disco da Legião Urbana, e os 15 daquele show que ele havia ido. Mas certamente trás de volta lembranças de milhares de fãs do grupo.


09/11/2015.

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