Não Controlamos o Destino de Nossos Corpos - Um texto na Piauí de setembro de 2015


Não Controlamos o Destino de Nossos Corpos - Um texto na Piauí de setembro de 2015



Na edição de setembro de 2015 da revista Piauí há um texto muito veemente de Ta-Nehisi Coates, denunciando o racismo nos Estados Unidos, ou como ele diz no texto, "na América". De fato, o texto é líbelo em forma de carta que ele dirige ao seu filho, o menino Samori Coates.


Também é um excerto do livro "Entre o Mundo e Eu", lançado recentemente.


Ateu, Ta-Nehisi Coates renuncia a qualquer narrativa consoladora pós-morte para o escravismo dos Estados Unidos, ou ao racismo decorrente desse escravismo. Como diz no destaque do texto, os corpos dos escravos foram transformados em açúcar, algodão, tabaco e ouro para os senhores dos escravos.


A denúncia se mistura com as lembranças de Ta-Nehisi. Ele fala da Universidade Howard (uma universidade fundada na segunda metade do século XIX, em Washington, D.C., para fornecer educação superior a negros, inicialmente para formar teólogos ou pastores, e logo depois todo tipo de artes e ciências. Segundo uma nota do texto, ainda hoje cerca de 80% do corpo discente é composto de alunos negros), onde ele estudou, e conheceu muita gente. Inclusive a mãe de seu filho.


Ele lembra especialmente de um jovem chamado Prince Jones. Alto, magro, de pele clara para os negros dos Estados Unidos, Prince Jones era uma cristão evangélico, e visava construir para si uma carreira acadêmica.


A verdade é que a gravidez da mãe de Samori fez com que Ta-Nehisi precisasse se deslocar mais pelos Estados Unidos. E é então que ele fala da polícia do condado de Prince George. Ele comenta sobre essa polícia, numa lembrança de um dia ter sido parado por ela, e lembrar uma série de arbitrariedades praticadas por essa polícia, o que nos faz pensar que não é apenas no Brasil que a polícia tem seus suspeitos preferenciais, e justifica suas arbitrariedades e execuções montando cenas de "resistência".


E é então que Ta-Nehisi percebe que um outro assassinato por parte da polícia do Condado de Prince George foi a de Prince Jones.


Prince Jones, o rapaz que queria ser acadêmico, o rapaz que tentava cumprir aquilo que se diz dos negros norte-americanos, que, para vencer o preconceito e ter sucesso na vida, eles precisavam se esforçar duas vezes mais.


Prince Jones foi baleado por um policial numa estrada perto de Washington, e a única testemunha do assassinato foi o próprio policial. Em sua defesa o policial alegou que Prince Jones teria tentado atropelá-lo. Ta-Nehisi se pergunta porque Prince Jones teria interesse em desistir de sua carreira acadêmica para se tornar um atropelador de policiais.


A partir desse ponto tudo é denúncia no texto, que afirma que, assim como os negros que foram escravos no passado estavam à mercê de seus proprietários, os negros de hoje nos Estados Unidos não controlam o destino de seus próprios corpos, pois estão à mercê das forças do Estado, que fazem o controle social dos negros, inclusive, sim, matando alguns deles.


Uma triste denúncia, um líbelo contra o preconceito. E uma advertência ao filho dele.


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