Diário - leituras - A Alma Imoral


Diário - leituras - A Alma Imoral


"A Alma Imoral" é um livro sobre, bem, sobre a alma. Mas um livro que se afasta um pouco da noção estabelecida de alma do ocidente.
Nilton Bonder é um rabino e este texto vai buscar sua inspiração no Velho Testamento, isto é, no Gênesis, e em toda a tradição de sabedoria judaica através dos séculos.
Qual é a noção estabelecida de alma no ocidente? A alma como a parte imaterial dos seres humanos, o espírito, o que faz dos seres humanos diferentes dos demais animais que habitam o planeta. Uma parte imaterial, talvez mesmo imortal.
Esta noção vem em parte da filosofia grega, com a alma sendo a parte nobre do ser humano, a que veio do mundo ideal, segundo a concepção platônica, e que não está sujeita à corrupção do corpo. Esta ideia foi apropriada pelo Cristianismo, que reforçou a dicotomia entre o espírito bom, e o corpo mau, como fica exemplificado, por exemplo, na Epístola de Paulo aos Gálatas, "Mas, se sois guiados pelo Espírito, não estais debaixo da lei. Porque as obras da carne são manifestas, as quais são: adultério, fornicação, impureza, lascívia, Idolatria, feitiçaria, inimizades, porfias, emulações, iras, pelejas, dissensões, heresias, invejas, homicídios, bebedices, glutonarias, e coisas semelhantes a estas, acerca das quais vos declaro, como já antes vos disse, que os que cometem tais coisas não herdarão o reino de Deus. Mas o fruto do Espírito é: amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, temperança. Contra estas coisas não há lei." (Gálatas 5:18-23). Há que se dizer que "Espírito" aqui está relacionado também ao Espírito Santo, não apenas à alma dos cristãos da região da Galácia, mas é uma boa ilustração do que foi dito anteriormente. Há um corpo (a carne no texto) decadente, sujeito ao pecado, e um espírito que deve superar o pecado, mostrando bons frutos.
Nilton Bonder altera essa visão.
Ele equipara a alma à consciência no Gênesis. Ou seja, quando o homem e a mulher transgrediram o mandamento, e tomaram consciência que estavam nus diante de Deus, que a alma se manifestou como consciência. Talvez antes, o homem (e a mulher) não fossem muito diferentes dos demais animais do Éden, mesmo tendo sido criados à "imagem e semelhança de Deus" (a propósito, o autor não escreve "Deus" assim, mas da seguinte maneira: "D'us"). Para seguir o "crescei e multiplicai-vos" não era necessário muito raciocínio, apenas seguir o instinto.
E por aí o autor vai discutindo como a alma é a verdadeira imoral nessa relação, porque a alma é que vai ter o fardo de transgredir a moral estabelecida. Moral esta que, segundo o autor, é sempre a moral do corpo.
Por isso, a alma é imoral.


BONDER, Nilton. A Alma Imoral. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

02/01/2016.


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