Diário - leituras - Leituras na Piauí, novembro de 2016


Diário - leituras - Leituras na Piauí, novembro de 2016


A revista Piauí de novembro de 2016 trouxe alguns textos bem interessantes: mais um excerto de livro da escritora bielorrussa Svetlana Aleksiévitch; o diário da convivência de uma mãe argentina com seu filho radicado no Japão; uma reportagem perfil da filósofa estadunidense Martha Nussbaum; um perfil literário do escritor V. S. Naipaul; e um texto da escritora Ana Cássia Rebelo, também excerto de um livro sendo publicado, no caso, "Ana de Amsterdã".
Com dois excertos de livros, é possível parabenizar a revista como veículo de publicidade.
Acho que para contrabalançar, a revista publica reportagem de Júlia Dualibi sobre a advogada Janaína Paschoal. Coisa que não consegui ler.
O texto de Aleksiévitch é mais uma vez muito interessante. "O Fim do Homem Soviético" repete a fórmula dos livros anteriores da escritora bielorrussa publicados por aqui, "Vozes de Chernobil" e "A Guerra não tem Rosto de Mulher". Como nos outros livros, ela dá voz a diversas pessoas que teve condições de ouvir, para elaborar e publicar. Nessas vozes ela dá um sentido humano a eventos que costumamos pensar como abstrações. A peculiaridade deste livro é que ele mostra como uma série de pessoas atravessaram e sofreram o fim da União Soviética, de alguma maneira me esclarecendo como foi isso. Contemporaneamente eu também vivi o fim da União Soviética, mas essa era uma realidade distante. Afinal como foi o fim daquilo? A mídia aqui narrou como uma grande "libertação", o fim de uma ditadura. Mas foi isso mesmo? As pessoas passaram a viver melhor ou pior? Também, excepcionalmente, nesse livro, Alesiévitch dá seu próprio depoimento aos dias do fim da União Soviética. Para completar o assunto, a revista publica um pequeno artigo do historiador Orlando Figes, onde ele comenta a obra e critica um pouco da falta de método de Aleksiévitch. Como se ela estivesse preocupada em seguir metodologias de História. Aparentemente não está.
Mori Ponsory, escritora argentina, narra seus dias durante cerca de 15 dias no Japão, junto com seu filho, um admirador da cultura nipônica. O rapaz estava vivendo no país como uma espécie de bolsista do governo japonês. Ela narra seu estranhamento com o país, com as poucas pessoas fluentes em outro idioma que não o japonês, com o sentimento de ser iletrado num país que tem um sistema de escrita muito diferente do alfabeto latino. E por fim, a descoberta que seu menino não é mais o seu menino, mas um homem que aprendeu a viver só num país distante. "Okasan" é o título dessa edição de diários.
A reportagem biogŕafica, escrita por Rachel Aviv, sobre a filósofa Martha Nussbaum me surpreendeu pela minha ignorância. Segundo esse texto, Nussbaum é uma filósofa prolífica, que já escreveu sobre diversos assuntos, da estética ao feminismo, passando pela desigualdade econômica. Mas eu nunca havia ouvido falar nela. Sendo ela aparentemente tão importante, talvez eu devesse saber.
Alejandro Chacoff escreve um perfil literário do escritor caribenho-britânico Vidiadhar Surajprasad Naipaul, ou mais simplesmente V. S. Naipaul. É um perfil curioso porque aparentemente Chacoff não procurou seu perfilado, mas tratou de compilar reportagens. Naipaul é nascido na ilha de Trinidad (aquela que forma com a outra ilha, Tobago, um pequeno país no Caribe), em família de origem indiana. Naipaul procurou se tornar um escritor importante na Inglaterra, e não apenas na sua Trinidad natal. Mas, segundo Chacoff, em grande parte rejeitou suas origens, para tentar se projetar como um escritor branco, num país de elite branca. Chacoff fala principalmente dos romances que Naipaul escreveu, e depois deixou de escrever, principalmente "A House for Mr. Biswas", possivelmente inspirada na vida do pai de Naipaul. Eu, por exemplo, conheci a obra de Naipaul por seus relatos de viagens, "Entre os Fiéis" ("Among the Believers: An Islamic Journey") e "Além da Fé" ("Beyond Belief: Islamic Excursions among the Converted Peoples"). Ambos falando de países não árabes, cuja população, em sua maioria professa a fé islâmica: Irã, Paquistão, Indonésia, Malásia.
Por fim, há o excerto de "Ana de Amsterdã". O livro "Ana de Amsterdã" foi recentemente lançado no Brasil. Se trata de uma seleção de textos que a escritora portuguesa Ana Cássia Rebelo publicou em seu blogue, entre 2006 e 2014. Aqui acabamos compartilhando um pouco da intimidade, das tristezas e alegrias, de Ana, que na época usou o blogue como um desabafo.
Foi uma edição boa da revista.

25/12/2016.

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