Diário - leituras - Terra Negra


Diário - leituras - Terra Negra


"Terra Negra" é um livro que é, como diz o subtítulo, "uma viagem pela Rússia pós-comunista".
De fato, o autor narra em longa reportagem, uma viagem aos quatro cantos da Rússia pós-soviética.
Começa falando de Moscou, a capital. O novo capitalismo, surgido do desmonte da antiga União Soviética. Fala do gangsterismo que ainda existia quando ele estava por lá, no final dos anos 1990. Fala dos riscos que corriam os jornalistas independentes.
Depois vai para o sul, para fazer uma reportagem sobre como estaria a Tchechênia, após anos de guerra, e intervenção russa. Como a região foi arrasada, e como isso influenciou mesmo a reorganização das forças armadas russas para intervir ali. O retrato que ficou é de uma devastação, e uma situação que sempre pode ficar pior.
Depois vai para o norte. Sobe um rio num barco com passageiros, em direção a uma zona mineração russa na região do Ártico. Norilski é uma cidade de referência. A cidade que já foi uma colônia penal, hoje é um polo de extração de metais. As minas saíram da mão do Estado, para algum oligopólio privado.
E do Ártico para o extremo oriente: Sakalina. Uma curiosidade já na chegada: Meier percebe que há alguns japoneses no avião que o leva à Sakalina. Imagina turistas. Estava enganado. Eram moradores locais, descendentes dos habitantes da época que as ilhas foram tomadas (retomadas?) ao Japão, no final da Segunda Guerra. Mas enfim, ele tenta mostrar como se vive nessa região tão longe do governo federal.
E do extremo oriente, para o Ocidente: São Petersburgo. A cidade cosmopolita, voltada para o ocidente, com agitada vida cultural, e também minada pelo tráfico de drogas.
Terra Negra tem a ver com uma citação de Tolstoy (ou seria de Dostoievski?) quando de uma viagem pelo Cáucaso no século XIX.
A imagem que fica é realmente de uma terra semi-arrasada, de um caos que toma conta do país após a queda do comunismo.
Como reportagem, o autor faz muitas citações a autores antigos e consagrados. São recorrentes as palavras de Dostoieviski, ou de Gogol, ou de Tchekov. Claro, a reportagem tem que tomar corpo, e incluir a citação de alguns autores do século XIX faz render.
O que falta? Análise. O autor parte da situação dada. Descreve, entrevista, comenta. Mas não tenta entender o porquê de tudo, o porquê se chegou àquela situação. É certo que é assim mesmo. Ele claramente não se propôs a explicar o que estava acontecendo. Apenas narra.

MEIER, Andrew. Terra Negra. Rio de Janeiro: Globo, 2005.

02/01/2016.

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