Diário - leituras na Piauí - Janeiro de 2017 - Pátria Iletrada


Diário - leituras na Piauí - Janeiro de 2017 - Pátria Iletrada


Da edição de janeiro de 2017 da revista Piauí, a reportagem que achei mais relevante foi a que apresenta a tese de livre docência do professor Renato Perim Colistete da USP, reportagem esta escrita por Rafael Cariello e Tiago Coelho. Na sua pesquisa para a tese, Colistete se pergunta porque a permanência do analfabetismo no Brasil no final do século XIX e início do XX, tempos finais do império e república velha, enquanto as nações mais desenvolvidas estavam combatendo isso com relativo sucesso.
Da pesquisa de Colistete saem algumas informações e ideias relevantes. Uma informação é que muitas câmaras de vereadores receberam solicitações de moradores (hoje chamaríamos de "abaixo-assinados") para que o município providenciasse escolas para as crianças da época. Entretanto os municípios não quiseram ou não puderam providenciar essas escolas na medida das necessidades existentes. Para que essas escolas fossem construídas e se arranjassem professores era necessário o financiamento para tudo isso, mas não havia sistema de impostos suficiente para pagar.
Por que isso? Aí há diversos fatores a serem considerados, a começar pela organização econômica do país de de então, com a economia e o trabalho concentrados no campo, sem a necessidade aparente de uma população alfabetizada para realizar as tarefas requeridas dos agricultores.
Junto com isso uma elite econômica que não desejava a taxação de suas terras ou propriedades urbanas. Taxação essa que poderia ser uma fonte de financiamento para a ampliação do acesso à educação.
Além desses fatores, uma centralização política e administrativa que impedia os cidadãos locais (dos municípios) de terem seus pleitos atendidos. Essa é a parte mais complicada de ser explicada.
O sistema político do Brasil no início do século XX centralizava recursos na união, mas os políticos eram eleitos entre as elites locais, que faziam valer sua preeminência econômica nos estados e municípios. Isso era uma via de mão dupla. Essas elites locais eram as "pessoas importantes" das regiões, e por conta disso, alegavam que traziam recursos para de volta para a região, lhes trazendo prestígio. Mas esses recursos eram mais para benefícios econômicos, estradas, ferrovias, locais de armazenamento; que para desenvolvimento social, o que seria o caso da ampliação do acesso à educação.
Elites interessadas apenas na sua prosperidade econômica e desconfiadas do restante da população. Eis um retrato do Brasil de 1900 e de 2017.
A reportagem me lembrou de outra na mesma revista, do mesmo Rafael Cariello, que abordou os estudos do americano Nathaniel Leff, que justamente pesquisa motivos do atraso de nosso desenvolvimento em relação aos Estados Unidos, comparando as políticas de preço do trabalho nos dois países. Vale lembrar.
O subdesenvolvimento é algo que precisa ser meticulosamente procurado para que possa ser alcançado. Estamos vendo.


15/01/2017.

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