Pensando mais a respeito do filme “O Cavaleiro Solitário”


Pensando mais a respeito do filme “O Cavaleiro Solitário”



Falei recentemente que eu havia ido assistir ao filme “O Cavaleiro Solitário”, e que o achei um filme muito bom.

Agora pretendo refletir um pouco mais para validar minha opinião. Obviamente isso implica em falar livremente sobre o filme, e eventualmente estragar o prazer de alguns de ver o filme, assim, se você quiser acompanhar minha reflexão, siga a leitura por sua conta e risco.

O filme começa com um menino fantasiado de Lone Ranger encontrando Tonto em um parque de diversões na Califórnia. E Tonto começa a contar sua história para o menino, sim, ele é aquele Tonto que acompanhava o Cavaleiro Solitário, o justiceiro do oeste.

E a primeira coisa que Tonto conta ao menino é que ele, Tonto, e o Lone Ranger assaltaram um banco. Assaltaram um banco? Mas eles não eram os mocinhos? Como poderiam assaltar um banco? Bem, esse assalto será contextualizado no decorrer do filme, mas isso mostra como a história vai ser contada, em “flashbacks” que vão e vem, mas mesmo assim permitem à história ser contada com fluidez.

O filme é interessante em primeiro lugar porque tem locações no Monument Valley, aquele lugar, na fronteira dos estados de Arizona e Utah, onde o diretor John Ford filmou tantos de seus filmes no século XX. Aparentemente também é o lugar onde o Coyote tenta incansavelmente pegar o Papa-Léguas, mas isso é outra história. Não importa se o Texas fica um pouco mais longe, onde quer que fique a provavelmente fictícia Colby do filme.

Estão lá a chegada dos trens. A ferrovia iria reduzir o tempo de uma viagem de costa a costa dos Estados Unidos, de semanas, para dias. A ferrovia já foi personagem de outros “westerns”, mas provavelmente em nenhum outro como no clássico “Era Uma Vez no Oeste”, que guia aquela narrativa. O filme de Sergio Leone, de 1968, mostrava um oeste que ia sendo transformado pela chegada dos caminhos de ferro.

Aqui, em “O Cavaleiro Solitário”, o trem chega pilhando a riqueza natural do país, e dizimando a população nativa. E o encarregado de fazer a ferrovia avançar pelo oeste, é irmão de um facínora. A propósito, creio que é uma imensa ironia do filme que o trem que chega trazendo o progresso e também a pilhagem se chame “Constituição”.

E a propósito, o filme toca nisso, no aspecto legal. John Reid, o jurista que volta dos estudos nas regiões educadas do pais, para trazer a justiça e a civilização para sua terra, traz consigo um clássico de John Locke . O idealismo ingênuo de John Reid vai acabar se confrontando com as duras condições de vida da vida no Texas. Mesmo quando a patrulha da qual ele acaba por fazer parte é emboscada, e seu irmão e demais companheiros mortos, ele continua com seus ideais, num extremo, que, me parece, quer se tornar cômico.

E neste filme, vemos o exército, convocado para proteger a população branca, e principalmente a ferrovia, que acaba por massacrar a população nativa, de índios comanches. Houve um outro filme que se viu a cavalaria massacrar indígenas, inclusive as mulheres e crianças. Foi “Rastros do Ódio” (“The Searchers”), filme do diretor John Ford, com John Wayne. Um dos filmes de John Ford gravado no Monument Valley, a propósito. No filme de John Ford, a personagem de John Wayne, Ethan Edwards, um ex-militar do exército confederado vai em busca de sua sobrinha, raptada por índios. E em determinado momento da história, há esse massacre indígena, promovido por um batalhão de cavalaria do exército dos Estados Unidos.

E de volta ao filme “Cavaleiro Solitário”, quando confrontado com o massacre cometido contra os indígenas, o oficial do exército, em vez de procurar fazer o que é certo, volta-se contra o Lone Ranger.

A principal inconsistência que percebi no filme, foi o bandido Butch Cavendish, que começa como um facínora, inclusive canibal, mas que vai sendo diluído ao longo filme.

Há ainda as prostitutas lideradas por Red Harrington, vivida por Helena Bonham-Carter. E os evangélicos, que cantam hinos e leem a Biblia, mas são capazes de se mostrar bastante intolerantes com os nativos americanos, “pagãos”.

Segundo o Internet Movie Database, o IMDB, o filme foi um fracasso nos Estados Unidos. Com um orçamento de cerca de 250 milhões de dólares, gerou renda de ingressos de 87 milhões de dólares.  O IMDB não informa ainda as vendas mundiais de ingresso para o filme.

Este fracasso em casa não chega a ser surpreendente. É difícil pensar em encarar um filme, mistura de aventura e comédia, que mostre o passado e o progresso do país como pilhagem, massacres e injustiças. Injustiças estas que o Cavaleiro Solitário, e seu parceiro Tonto tentam amenizar.

Por tudo isso que disse acima, é que acho que é um grande filme.


14/08/2013.

P.S. Lá se vão mais de seis meses desde que escrevi pela primeira vez sobre o filme.


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Poemas de Abbas Kiarostami na Piauí de Junho/2018

Sessão de Autógrafos - A Voz dos Novos Tempos

Feliz aniversário, Avelina!